Análise Política: A consagração de João Campos e o novo cenário eleitoral em Pernambuco
Escrevo este artigo na condição de um apaixonado por política, deixando de lado a beca jurídica que habitualmente utilizo em meus escritos. As eleições municipais de 2024 no Recife consolidaram o favoritismo do prefeito João Campos, reeleito com impressionantes 78,11% dos votos válidos, um resultado que reforça sua liderança e aponta para o futuro da política pernambucana. Gilson Machado, representante do bolsonarismo, ficou em segundo lugar com 13,90%, enquanto Dani Portela e Daniel Coelho obtiveram votações modestas, com 3,78% e 3,21%, respectivamente.
João Campos reafirmou sua estratégia de desvincular-se do peso histórico de sua linhagem política, evitando utilizar a imagem de seu pai, Eduardo Campos, ou de seu bisavô, Miguel Arraes. Ao invés disso, apresentou-se como um político do “novo”, focado em uma narrativa de modernidade e proximidade com a juventude. Essa postura foi fortemente amplificada por suas redes sociais, que tiveram um papel decisivo em manter sua imagem sem grandes arranhões, apesar das críticas à sua gestão, como no caso do escândalo do programa das creches.
A ausência de debates e a falta de uma oposição articulada ao longo de seu mandato também contribuíram para o cenário favorável. O período eleitoral de 45 dias foi insuficiente para que os adversários desconstruíssem uma imagem tão fortemente consolidada. Ao longo de sua campanha, João Campos mostrou maturidade política, distanciando-se de polêmicas e apresentando-se como um candidato mais preparado em comparação com 2020.
Gilson Machado, com 13,90% dos votos, não conseguiu deslanchar como alternativa viável ao atual prefeito, apesar de sua forte ligação com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Sua campanha careceu de traquejo político e enfrentou divisões internas no partido, o que acabou enfraquecendo suas chances. O bolsonarismo, embora ainda presente, mostrou sinais de desgaste, e Machado não foi capaz de mobilizar um eleitorado mais amplo, ficando restrito à sua base fiel.
Daniel Coelho, que foi um dos candidatos a deputado federal mais votados em Pernambuco em 2022, demonstrou uma disposição notável ao colocar novamente seu nome à disposição para a disputa municipal, apesar dos desafios. Embora tenha surpreendido com um resultado abaixo do esperado, conquistando 3,21% dos votos, sua determinação em participar do processo eleitoral reafirma seu compromisso com a cidade e com a prática política. Seu discurso, centrado em um “Recife sem filtro”, buscou expor falhas na gestão de João Campos, oferecendo uma alternativa crítica e fundamentada.
Um ponto louvável foi sua postura de proteger a governadora Raquel Lyra sempre que foi instado a criticá-la, demonstrando maturidade política ao não atrelar sua derrota à gestão estadual. Esse posicionamento estratégico evitou que sua campanha fosse vista como uma crítica ao governo, preservando o relacionamento institucional e sua própria trajetória política. A coragem de Daniel em disputar, mesmo em condições adversas, mostra sua resiliência e vontade de contribuir para o debate público.
Dani Portela, com 3,78% dos votos, teve uma performance abaixo do esperado, especialmente considerando seu protagonismo como deputada estadual. Sua campanha criticou tanto João Campos quanto o governo de Raquel Lyra, posicionando-se como uma alternativa mais à esquerda. No entanto, o crescimento esperado não se concretizou, possivelmente devido à fragmentação das forças progressistas no estado.
Com a reeleição de João Campos, o cenário político pernambucano começa a se moldar para as eleições de 2026. O prefeito não apenas consolidou sua posição na capital, mas também carrega consigo as vitórias de aliados importantes. O Republicano Sílvio Costa Filho teve sucesso em Ipojuca, com Carlos Santana, e em Camaragibe, com Diego Cabral. Além disso, a família Coelho, liderada por Miguel Coelho, triunfou de forma acachapante em Petrolina com a vitória de Simão Durando, reforçando o poder dessa tradicional família política no sertão.
A governadora Raquel Lyra, por sua vez, também colheu vitórias importantes. Conseguiu reverter um cenário difícil em Igarassu e Paulista, e agora espera reciprocidade dos Ferreiras, que venceram em Jaboatão dos Guararapes. Ela também terá pela frente uma acirrada disputa em Olinda contra o PT. Em Caruaru, Raquel reafirmou sua força política ao ver seu aliado, Rodrigo Pinheiro, vencer novamente Zé Queiroz, Tony Gel, Fernando Rodolfo e as outras vozes de oposição, equilibrando o jogo da estadualização das eleições municipais.
Esses resultados pavimentam o caminho para uma disputa intensa em 2026, onde João Campos e Raquel Lyra se consolidam como as principais lideranças a serem observadas. O campo político está em transformação, e essas eleições municipais foram um prenúncio das batalhas que virão.
Em tempo, apesar de seguirmos para o segundo turno apenas nas cidades de Olinda e do Paulista, outras cidades terão como palco político a possibilidade de eleições suplementares em decorrência dos prefeitos eleitos estarem com seus registros de candidaturas aguardando julgamento pelo TSE, como as cidades de Goiana e Cabo de Santo Agostinho.