Opinião | Pernambuco e seu espírito libertário
O ano de 1817 ficou marcado para sempre na história de Pernambuco. O sonho de uma República ainda estava um pouco distante, mesmo assim, o número de adeptos só fazia crescer. Na Bahia, no ano de 1823, a guerra civil era predominante, acrescente-se parte da celeuma, a conduta adotada pelo general Madeira. No Maranhão e Pará praticamente referendavam as ordenanças oriundas do capitão Granfell. Mesmo com um cenário desfavorável, Pernambuco continuava influenciando com suas ideias libertárias. Desde o século XVII, em que praticamente sem o apoio de Portugal travara três batalhas contra os batavos, só quem não tinha visão política, acreditava que os pernambucanos de maneira pacífica se contentariam com o domínio imposto pela Coroa.
Em janeiro de 1824, estava à frente da província Manuel de Carvalho Paes de Andrade, sua administração era vista pelo imperador como perigosa, pois, participara do movimento de 1817. Sendo assim, tinha o estigma de possuidor de ideias liberais, não apenas ele, mas também seu secretário o Dr. Natividade Saldanha. Foi suficiente para D. Pedro nomear alguém da sua confiança. Para o feito, designou Francisco Paes Barreto. Sem nenhuma surpresa, ocorreu o protesto da parte dos pernambucanos, entendendo que era um desrespeito a vontade soberana do povo que havia escolhido o Presidente da Província. A chegada do indicado pelo Imperador em 20 de maio de 1824, tornou-se o estopim para o surgimento de uma nova revolta, eclodindo a 2 de julho de 1824. Assim, Manuel de Carvalho Paes de Andrade proclamou a chamada Confederação do Equador e convocando as outras províncias do Norte para aderirem, demonstrando insatisfação com a conduta arbitrária de D. Pedro I. Sem a adesão como esperava, os pernambucanos ficaram praticamente mais uma vez sozinhos, porém, demonstraram que o espírito de liberdade encontrou guarida nos coração do povo.
Seria bom que as demonstrações de insatisfação que acompanharam a trajetória de Pernambuco não se tornassem algo ligado exclusivamente ao passado. O espírito bravio e inquieto que se fez presente entre os pernambucanos nos primeiros séculos, venha ressurgir e mais uma vez seja demonstrado que aqui se luta pelos direitos e entre eles a liberdade.
Olinda, 13 de julho de 2024.
Sem ódio e sem medo.
Hely Ferreira é cientista político.