Cepe lança livro inédito do jornalista e cineasta Amin Stepple
As linhas tortas dos imprestáveis é o primeiro livro do jornalista e cineasta Amin Stepple Hiluey, paraibano que trocou Campina Grande pelo Recife. Ele escreveu os contos, definiu o título, fez o lay out com amigos e queria publicar em vida a sua criação. Não deu tempo. Vítima de câncer, Amin morreu em dezembro de 2019, aos 69 anos, e deixou a tarefa para a família. O lançamento, pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), será quinta-feira (09/03), a partir das 19h, no Bar Central, localizado na Rua Mamede Simões, em Santo Amaro, no Centro do Recife.
Com 144 páginas, ilustradas pelo jornalista Ivan Maurício, o livro reúne 14 contos que falam de vida e de morte com o humor sofisticado e a ironia fina tão características de Amin. “São histórias divertidas, com um humor muito forte e, ao mesmo tempo, pesadas”, afirma Anarruth Corrêa, pedagoga e viúva do jornalista. “Os textos mostram o que ele estava sentindo naquele período, a perenidade da vida o incomodava, mas ele não falava abertamente, escrever os contos foi uma forma de dizer o que ele sentia e não verbalizava”, declara Anarruth Corrêa.
Nas histórias inventadas por Amin, todas de ficção, há o personagem que é crucificado e esquecido na cruz (O chocalho fatídico dos ossos), há o relato impagável de um coveiro num cemitério para sepultamento de heterônimos (Belas tumbas), há uma convenção de sósias de Franz Kafka, realizada anualmente na data de morte do escritor (Escrava sexual), há uma morte que tinha medo da morte e virava o rosto ao passar pela frente de casa funerária (Sais relaxantes para madame).
“Muita coisa que está nos contos são da vivência dele, é um livro de autoficção, o universo dele está presente nas histórias”, destaca Anarruth. “E como era cineasta, os contos são muito imagéticos. Ele escreve e você consegue imaginar a cena”, declara a pedagoga, ao citar como exemplo o último texto do livro, A longa noite de nitrato, ambientado numa sala de exibição de cinema mudo. “Kafka, Nélson Rodrigues e Oswald de Andrade, esses três grandes escritores, eram fortes referências para ele.”
Jornalista que tinha o cinema como paixão, Amin Stepple começou a escrever peças de teatro e contos, esporadicamente, quando saiu do jornalismo e passou a atuar com marketing publicitário, diz Anarruth. Em 2018, já doente, organizou As linhas tortas dos imprestáveis para publicação. No fim de outubro de 2019, internado, fez as últimas correções no texto. “Amin era pura emoção e tinha um senso de justiça muito aguçado, tudo isso está presente no livro”, afirma.
Como diz o jornalista Paulo Cunha na apresentação do título: “Amin era capaz de produzir textos surpreendentes. Em parte, o escrito reproduzia sua fala cortante, como se cada frase saísse como uma sentença conclusiva e mordaz. Mas, para além da voz, o texto é ainda mais poderoso, com o aspecto de uma lâmina afiada: força narrativa, personagens incríveis, descrições que nos levam a paisagens nunca suspeitadas. Você pode nunca ter cruzado e muito menos trocado duas palavras com ele, mas ler seus textos basta: estão ali a alma e o corpo.”
A publicação de As linhas tortas dos imprestáveis é uma homenagem a Amin Stepple, declara o jornalista Ítalo Rocha, contemporâneo de faculdade e amigo do cineasta por mais de 40 anos. “Amin tinha uma visão anarquista da vida, era muito informal e tinha um humor sarcástico, nos contos ele cria situações inusitadas e personagens bem diferenciados”, afirma Ítalo Rocha, que fez o texto do livro com a trajetória profissional do autor. O oftalmologista e escritor Alvacir Raposo, um dos primeiros leitores dos contos, escreveu o posfácio.
SOBRE O AUTOR - Amin Stepple Hiluey começou a carreira de jornalista no Diario de Pernambuco. Foi correspondente da extinta revista Visão, editor-chefe do NETV 2ª Edição na TV Globo e um dos fundadores do Rei da Notícia (jornal alternativo de conteúdo anarquista). Como cineasta, foi um dos pioneiros do Super-8 em Pernambuco (Isso é o que é, Tempo nublado e Creuzinha não é mais tua). Juntamente com Fernando Spencer, fez roteiro, produção e direção do premiado documentário História de amor em 16 quadros por segundo. Dirigiu e roteirizou com Lírio Ferreira o filme em 16 mm That’s a lero-lero, foi roteirista do longa País do desejo e colaborou no roteiro de Árido movie.
Serviço
O que: Lançamento do livro As linhas tortas dos imprestáveis, aberto ao público
Quando: 09 de março
Local: Bar Central (Rua Mamede Simões, Santo Amaro, Recife)
Hora: 19h