Cultura: Recife ganha quatro novos Patrimônios Vivos; confira
Os contemplados receberão bolsas de incentivo vitalícias, com valores reajustados conforme a Lei 18.827/2021
Foto: Marcos Pastich e Pedro Neiva/PCR
O Recife passa a contar com mais quatro Patrimônios Vivos, selecionados na última quinta-feira (19) em reunião extraordinária do Conselho Municipal de Política Cultural, realizada no Pátio de São Pedro. Os novos reconhecidos são a marisqueira Edileuza Silva do Nascimento, a yalorixá Laurinete Moraes (Mãe Nete), a Tribo Indígena Tapirapé e o Balé da Cultura Negra do Recife (Bacnaré).
Os contemplados receberão bolsas de incentivo vitalícias, com valores reajustados conforme a Lei 18.827/2021, variando entre R$ 2.009,83 e R$ 2.679,78. Essa é a terceira edição do concurso, que busca garantir o reconhecimento, a valorização e a perpetuação de saberes e técnicas culturais ancestrais.
A seleção foi realizada entre 27 candidatos que representam as manifestações culturais recifenses, sendo avaliados por meio de critérios documentais, de mérito e defesa pública. Os novos Patrimônios Vivos se somam aos oito mestres, mestras e grupos culturais já reconhecidos em 2022 e 2023.
Sobre os novos Patrimônios Vivos do Recife:
Edileuza Silva do Nascimento
Na cidade de águas abundantes, o ofício de Dona Edileuza, marisqueira desde menina, é um fazer ancestral, a que se dedicam, há séculos, muitas gerações de recifenses: homens e mulheres que aprenderam e também ensinaram a dura lida de catar o sustento de cada dia na maré.
Enfrentando as águas, os ventos, a chuva, os desafios e as surpresas oferecidas pela natureza, Edileuza e o ofício que ela representa é a salvaguarda de tecnologias e sabedorias ancestrais, há muito desenvolvidas no Recife profundo, confirmando a relação de um povo com sua geografia.
Laurinete Moraes (Mãe Nete)
Yalorixá, filha de sangue e de santo de Mãe Vadinha de Vira Mundo, Laurinete Moraes, mais conhecida como Mãe Nete em seu ofício sagrado, celebra, defende e representa os saberes e fazeres da fé e da cultura de matriz afro-indígena-brasileira. Com forte presença na Jurema Sagrada, é uma liderança comunitária, congregando e ensinando um povo a comungar de sua própria história, de seus símbolos e poderes.
Fundadora do Galpão do Vira, reconhecido como Ponto de Cultura do bairro de Dois Unidos, Mãe Nete desenvolve ações de resgate e celebração da cultura afro-brasileira, promovendo exposições, atividades educativas e eventos culturais. Além do ofício religioso, mantém o grupo cultural Coco Chinelo de Iaiá e ainda atua como ativista social comprometida com a inclusão e a diversidade. Sua cultura é a defesa de seu povo, sua fé e sua alegria.
Tribo Indígena Tapirapé
Fundada em 1957, no bairro de Afogados, pelos amigos João, Arlindo e Jair, surgiu a partir da descendência da Tribo Tabajara. A agremiação é uma das mais representativas do folguedo dos Caboclinhos e Tribos Indígenas do Recife. Com sede na comunidade do Alto José do Pinho, no Bairro de Casa Amarela, congrega 110 componentes, divididos em leques, baque, porta estandarte, cacique, rei, rainha, entre outros personagens.
Representada pelas cores vermelha e amarela, a Tribo tem forte relação com o Candomblé e o sagrado de matriz afro-brasileira. Ao longo de mais de seis décadas de existência e resistência, coleciona títulos conquistados em concursos e campeonatos culturais. Além de defender a manifestação cultural dos Caboclinhos e Tribos Indígenas, Patrimônio Cultural do Brasil desde 2016, a agremiação desenvolve trabalhos de inclusão social e transmissão de saberes, abraçando as comunidades vizinhas.
Balé da Cultura Negra do Recife (Bacnaré)
O Bacnaré foi fundado em 1985, por Ubiracy Ferreira, pesquisador, bailarino e coreógrafo, que se destacou como o primeiro bailarino negro a se apresentar no Teatro de Santa Isabel. Desde então, o grupo tem atuado na promoção e valorização da herança africana e afro-brasileira na cidade. Conhecido por seus espetáculos que integram dança e música, acumula 175 prêmios e reconhecimento internacional, tendo levado as tradições pernambucanas para diversos países, como França, Espanha, Alemanha e Taiwan.
Celebrando várias brincadeiras da cultura popular, o Bacnaré realiza apresentações como o Guerreiro Sol Nascente no ciclo natalino, como Bandeira de São João no ciclo junino e como Maracatu Nação Sol Nascente no ciclo carnavalesco. Além das atividades artísticas, oferece oficinas de dança, percussão, confecção de instrumentos, teatro de bonecos e artesanato para crianças, adolescentes e adultos, buscando promover a formação artística e o desenvolvimento de habilidades na comunidade. Aborda ainda, em sua atuação comunitária, questões relacionadas ao letramento racial, promovendo reflexões sobre identidade, ancestralidade e enfrentamento do racismo estrutural.
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