Jovem da zona rural de Macaparana é aprovado em Direito na Universidade Estadual da Paraíba: "nunca foi só por mim"
Filho de agricultores, Samuel Severino é o primeiro da família a entrar no Ensino Superior
Foto: Arquivo Pessoal/Samuel Severino
Ingressar no Ensino Superior é um momento especial na vida do estudante. Ao mesmo tempo, fim e início de ciclo, a virada de chave dessa fase está na presença do nome no “listão” do vestibular, democratizado pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Ser aprovado para estudar em uma universidade pública é o sonho de muitos jovens no Brasil. E diante de um país com tantas desigualdades, algumas pessoas têm que driblar mais obstáculos que outras pelo caminho.
Foi assim com Samuel Severino, de 18 anos, estudante que concluiu o Ensino Médio na Escola de Referência (EREM) Benedita de Morais Guerra, em Macaparana, na Zona da Mata Norte, e que foi aprovado para a graduação em Direito na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Jovem negro e filho de agricultores, desde muito cedo ajuda os pais como pode, e agora, vai abrir caminhos até então inimagináveis.
Trajetória
A história de Samuel, morador de Paquevira, na zona rural de Macaparana, se confunde com a de um Brasil que ainda está descobrindo que pode ser mais. De origem simples, seus pais ganham o pão de cada dia “tirando quadra”, ou seja, retirando o mato de propriedades privadas na região. Eles não puderam dar seguimento aos estudos pela realidade precária, mas investiram tudo no filho.
“Meu pai estudou até a 4ª Série, e minha mãe, até o 2º Ano do Ensino Médio. Mas eles e os professores da (escola) Benedita (de Morais Guerra) sempre me apoiaram e incentivaram a estudar cada vez mais. Isso foi uma grande vitória na minha vida! Um marco, realmente, por ter pessoas tão dedicadas ao meu futuro - sempre mostrando novos caminhos e a importância da educação nas nossas vidas”, relata o estudante.
Foto: Arquivo Pessoal/Samuel Severino
Quando chegou à adolescência, para ajudar com os gastos da família, Samuel se deparou com a realidade de cerca de 14 milhões de brasileiros entre 14 e 24 anos, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE): seria preciso encarar o desafio de estudar e trabalhar. Por estudar em tempo integral, era nos fins de semana e feriados que apareciam as possibilidades de uma renda extra.
No meio do caminho, Samuel trabalhou em restaurantes e ajudou a carregar caminhões de banana, um dos produtos de maior importância na economia da Mata Norte de Pernambuco. A gestora da escola Benedita de Morais Guerra, Laudiceia Farias, lembra que a rotina do jovem era desgastante. No entanto, o estudo sempre foi uma prioridade, e isso permitiu que ele quebrasse paradigmas.
“Samuel quebrou um ciclo. Ele é de uma família em que, até agora, ninguém nunca havia entrado em uma universidade; será o primeiro! E ele me disse uma frase que não esqueci: ‘nunca foi só por mim’. É uma realidade muito desafiante, mas é um menino que passou em Direito numa universidade pública. Inclusive, os desafios são grandes e agora vamos ter que buscar caminhos para isso”, garante Laudiceia.
Novos desafios
Foto: Divulgação/UEPB - Fachada de prédio da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
Guarabira, no interior da Paraíba, onde Samuel vai estudar, está há mais de 120 km de Macaparana. O desafio geográfico se soma ao financeiro, principalmente nas primeiras etapas do curso - quando há o maior índice de desistência. A burocracia para ter acesso aos auxílios concedidos aos estudantes é grande e demorada.
O racismo estrutural se soma a essa realidade, dificultando que espaços sejam conquistados ainda em universidades cada vez mais negras, devido aos avanços das políticas de cotas em dez anos. Para o futuro que Samuel almeja, no entanto, esses não parecem ser grandes obstáculos.
“Eu sou o primeiro da minha família a entrar em uma universidade e espero que venham muitos. Meu irmão, Júlio César, tem 6 anos, e quero que daqui a dez ou doze anos ele esteja entrando na universidade também. Me sinto feliz e realizado, pois nunca foi só por mim. Mas sim por mim e por toda minha família”, reforça.
Um dia, Samuel Severino vai retornar à zona rural de Macaparana como juiz, advogado, delegado, ou ainda, sendo aquilo que o estudo lhe mostrar ser possível. O estudante é mais um exemplo de que a educação supera barreiras. E de que, no fim de tudo, viver é partir, voltar e repartir.
Foto: Arquivo Pessoal - Samuel Severino ao lado dos pais, Josefa da Silva e Samuel Severino da Silva
Com edição de Maria Luna e sonorização de Lucas Barbosa,
Reportagem - Lucas Arruda
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