Fundaj envia pedido de tombamento do campus Casa Forte ao Iphan
Ofício foi endereçado nesta segunda-feira (13) à superintendência do órgão em Pernambuco. Na sexta (10) já havia sido enviado ao secretário de Cultura Gilberto Freyre Neto, neto do fundador da Fundaj
O pedido de tombamento do campus Casa Forte da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) foi enviado nesta segunda-feira (13) ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O mesmo procedimento foi realizado na sexta-feira (10) junto à Secretária Estadual de Cultura de Pernambuco, com a documentação encaminhada ao secretário Gilberto Freyre Neto, neto de Gilberto Freyre, fundador da Fundaj. No campus em questão, localiza-se o conjunto arquitetônico do Complexo Cultural Gilberto Freyre que reúne os edifícios Solar Francisco Ribeiro Pinto Guimarães (imóvel já classificado como Imóvel Especial de Preservação IEP nº151), o Paulo Guerra e o Gil Maranhão, edifício sede do Museu do Homem do Nordeste, um dos mais importantes acervos de antropologia da América Latina.
“As edificações constituem importante marco cultural para a nacionalidade, por representar, de forma harmoniosa, várias épocas construtivas; e somando ao valor construtivo, se deve registrar que por elas passaram personalidades que influenciaram a nossa identidade cultural devendo com isso obter a justa chancela de patrimônio nacional”, afirmou o presidente da Fundaj, Antônio Campos.
Com 70 anos de existência, a Fundaj foi concebida pelo sociólogo Gilberto Freyre e tem como missão preservar a memória, a formação profissional e a pesquisa social, no Norte e Nordeste do Brasil. A instituição tem crescido e ganhado prestígio dentro e fora do Brasil, no contexto das pesquisas científicas e das instituições vinculadas ao Ministério da Educação (MEC), entre outras atividades. Baseando-se também na importância desses aspectos, seu Conselho Diretor aprovou o ato de realizar a solicitação de tombamento junto às organizações responsáveis.
Depois desse consenso, visando à legitimidade da iniciativa, a própria instituição analisou as informações colhidas diretamente das fontes primárias do seu acervo. Foram levantados dados, documentos e imagens ilustrativas para o pedido, todos de pública transparência e uso coletivo. O memorial descritivo foi assinado por Frederico Almeida, coordenador-geral do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), e Antônio Montenegro, arquiteto e servidor da Fundaj.
“O conjunto de edificações da Fundaj/Casa Forte possui significativos méritos estéticos, históricos e técnicos, e que ensejam, na sua unidade, a proteção do diploma legal enquanto patrimônio cultural de Pernambuco”, destacou Antônio Campos. Além das motivações expostas, o procedimento servirá de estratégia preventiva contra o avanço da recorrente e ameaçadora especulação imobiliária em Casa Forte. E também, no que diz respeito ao controle da poluição visual e sonora nas vizinhanças do conjunto arquitetônico.
No fim do ofício enviado, lembra-se da Lei estadual 7.970, de 18 de setembro de 1979, que institui o Tombamento de bens pelo estado. Já a ausência inicial de alguns documentos sobre a instituição, é justificada pelas dificuldades decorrentes da pandemia do coronavírus. Quanto a isso, é assegurado que, em breve, também será enviado o que falta.
Os Edifícios
Solar Francisco Ribeiro Pinto Guimarães - Do final do século XIX, o solar tem área total aproximada de 610 m². O autor do projeto é desconhecido. O edifício é composto por porão alto e mais dois pavimentos. Ao estilo neoclássico dominante, foram incorporados elementos ecléticos, como ditava a moda na época. A entrada é marcada por um pórtico com colunas e arquitraves. A fachada é revestida por azulejos. A presença do porão alto, elemento comum nos solares construídos no século XIX, serve para isolar o edifício da umidade ascendente do solo e com isso promover melhores condições de salubridade das habitações em um clima predominantemente úmido e em um solo com níveis de lençol freático superficiais. Esteticamente, o recurso adiciona verticalidade à composição, conferindo porte e altivez ao edifício.
O solar foi construído em alvenaria estrutural de tijolos prensados e argamassados com cal e areia e revestidos com a mesma argamassa de assentamento dos tijolos. Os pisos são estruturados em vigas de madeira. No pavimento térreo, um tabuado suporta um primoroso parquet executado com madeiras de tonalidades variadas; no pavimento superior, o piso é um assoalho em pranchas de madeira. No terraço descoberto e vestíbulo da escada, o piso é revestido por ladrilho hidráulico.
O vão central de entrada apresenta imponente escada em madeira e mármore, encimada por uma claraboia, proporcionando iluminação zenital, conferindo leveza ao espaço. As portas e vãos que dão acesso aos salões são de madeira, com elementos metálicos em bronze. A janelas e porta externa, em esquadrias de madeira, possuem bandeiras com vidros coloridos. Os salões do pavimento térreo e hall de entrada têm o teto em gesso ricamente trabalhado.
O solar, que já passou por intervenções de restauro nas décadas de 1950, 1980 e 2010, encontra-se em bom estado de conservação, observando-se deterioração pontual nos revestimentos em azulejo das fachadas, que exige intervenção. No porão do solar funciona a sala de exposição Galeria Baobá. O solar conta com dois edifícios anexos com sistema construtivo semelhante ao dele. Essas edificações, dispostas em “L”, formam um pátio central para o qual o conjunto está voltado.
Com a inauguração do Complexo Cultural Gilberto Freyre, será instalada no Solar a Pinacoteca, com espaço para exposições permanentes e de curta duração. Já nas edificações anexas funcionam hoje a Galeria Mauro Mota e a Sala do Conselho Deliberativo (Condir), além de outros espaços utilizados como arquivo para o administrativo e para livros da Editora Massangana. Onde hoje funciona o Condir, será instalado o Memorial Gilberto Freyre. Era nesse espaço que o sociólogo fundador da Fundação Joaquim Nabuco despachava. Quando o Complexo for inaugurado, contará também com a Cinemateca Pernambucana, que está instalada provisoriamente no primeiro andar do Museu do Homem do Nordeste.
Edifício Gil Maranhão - Da década de 1960, esse edifício projetado pelo arquiteto Carlos Falcão Corrêa Lima tem área total aproximada de 1200 m². É um exemplar notável do modernismo brasileiro/pernambucano. A arquitetura moderna, contrapondo-se ao neoclassicismo e ao ecletismo dominantes durante o século XIX e início do XX, se caracteriza pelo emprego de novas tecnologias construtivas, de formas geométricas simples, sem adereços; pela estrutura autônoma em relação às paredes; pela planta livre, capaz de responder a múltiplas demandas; pelo emprego de pilotis; pelos grandes planos de vidro das fachadas; pela integração entre os espaços internos e externos. Outra característica importante é a adoção dos princípios da racionalidade e da funcionalidade que resultam na setorização e hierarquização dos espaços do edifício segundo seus usos e funções.
Conta com pavimento térreo e superior. A estrutura é em concreto armado. A fachada tem como destaque o painel cerâmico Canavial, do artista Francisco Brennand, com um espelho d`água. Também apresenta planos extensos de esquadrias em ferro e vidro e trechos revestidos com azulejos.
O edifício está localizado mais ao fundo do terreno de modo a criar um amplo jardim voltado para a Avenida Dezessete de Agosto. Nele, estão instalados, no térreo, o Museu do Homem do Nordeste, o Cinema do Museu e a sala de exposições Waldemar Valente. No piso superior funciona, provisoriamente, a Cinemateca Pernambucana, que será levada para o anexo do Solar Franscisco Ribeiro, dentro do Complexo Cultural Gilberto Freyre. Com a transferência, esse piso superior voltará a expor o acervo do Museu do Homem do Nordeste, que conta com uma reserva técnica de 16 mil peças.
Edifício Paulo Guerra - Da década de 1980, o edifício foi projetado pelo arquiteto Wandenkolk Tinoco. Tem área total aproximada de 2400 m². É composto pelo pavimento térreo e mais duas torres articuladas, cada uma com três pavimentos. Sua estrutura é em concreto armado. Está localizado imediatamente após o conjunto oitocentista do Solar Francisco Ribeiro.
Tem características da arquitetura modernista brasileira já em uma fase madura de desenvolvimento, quando novas tendências e possibilidades eram adotadas. O surgimento dos edifícios altos - solução modernista para as grandes aglomerações urbanas - introduziu novos desafios de projeto, entre os quais a busca por uma convivência entre os hábitos, o clima e as tradições locais se tornou um caminho a ser trilhado.
Assim, o edifício merece destaque pelo respeito aos edifícios oitocentistas, ao mesmo tempo em que adota uma solução bastante ousada: os novos blocos são verticalizados, montados sobre pilotis de concreto, aparenta mais três pavimentos, com sistema estrutural autônomo e intencionalmente visível, chegando a um gabarito maior do que dos edifícios antigos.
Além disso, eles tocam nos blocos ecléticos originais através de uma pérgula, que termina por se espalhar por além das projeções de ocupação dos conjuntos verticalizados, ampliando a área sombreada para além dos pilotis e se abrindo para jardins internos. O seu acesso principal, por sob tal grelha de concreto armado, se dá justamente pelo espaço que já existia entre os dois blocos em L, indicado pela projeção em balanço de uma marquise também em concreto armado. No edifício funcionam hoje a Editora Massangana, a Sala Calouste Gulbenkian, a presidência e todo setor administrativo da Fundação Joaquim Nabuco.
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