Firma recebia propina para Bezerra, diz PF
Líder do governo no Senado seria o sócio oculto de uma concessionária de carros investigada por receber repasses de empreiteiras
Por Luiz Vassallo // Estadão
A Polícia Federal está convicta de que o senador Fernando Bezerra Coelho (MDBPE), líder do governo Jair Bolsonaro (sem partido), é o verdadeiro dono de uma concessionária de veículos de uma marca americana, que teria sido montada para que ele recebesse propina. De acordo com relatório da Operação Desintegração, o senador ainda teria atuado para conceder benefícios fiscais à marca no Nordeste do País.
A suspeita sobre a atuação do parlamentar já existia e foi reforçada após a análise de documentos apreendidos no gabinete do senador, além de conversas dele com familiares e empresários no aplicativo WhatsApp. Bezerra foi alvo de buscas e apreensões no dia 19 de setembro. A Desintegração investiga o pagamento de propina de R$ 5,5 milhões por empreiteiras na época em que ele foi ministro da Integração, de 2011 a 2013, do governo Dilma Rousseff. Na quarta-feira, o Estado revelou que a PF investiga negócios do senador, em um paraíso fiscal americano, com um dos empreiteiros suspeitos de pagamentos da propina.
A PF rastreia repasses oriundos de desvios de verba pública de obras do Canal do Sertão e da Transposição do Rio São Francisco. A PF afirmou ter encontrado diversos indícios de crimes, como doadores ocultos, pagamentos fracionados, bens transferidos a terceiros e outros documentos que reforçariam o elo entre a propina de empreiteiras e o senador. Conforme os investigadores, uma concessionária em Petrolina, a Bari Automóveis, que está em nome de um primo do senador, Lauro José Viana Coelho, seria o destino de dinheiro público desviado. A informação consta no depoimento do delator João Carlos Lyra Pessoa Mello Filho. No total, a revendedora de veículos teria recebido R$ 322 mil.
A PF relatou que, em um arquivo de computador que era operado pela secretária de Bezerra, foram encontradas informações referentes ao controle de vendas da Bari. Os investigadores também afirmaram que “também foram encontrados arquivos digitais durante a realização de busca e apreensão no gabinete do deputado federal Fernando Bezerra Coelho Filho (filho do senador), cujos dados analisados, igualmente demonstram a atuação e gerência nos negócios da Bari Automóveis”.
Segundo relatório da PF, a análise de conteúdo de mensagens de celular “demonstra, sem sombra de dúvidas, a atuação do senador Fernando Bezerra como sócio oculto da Bari Automóveis, o qual inclusive indaga e é informado, rotineiramente, sobre o resultado das vendas alcançadas”.
Benefícios fiscais
Entre os materiais apreendidos pela PF, está um ofício de Bezerra endereçado a Jorge Rachid, secretário da Receita Federal entre 2015 a 2019, em que o senador pede benefícios fiscais para a mesma montadora de carros dos Estados Unidos da qual ele seria sócio oculto.
Conforme a PF, o ofício “demonstra que o senador Fernando Bezerra estaria se utilizando das prerrogativas do cargo de senador da República para solicitar a manutenção de benefícios fiscais, em tese, no interesse do Estado de Pernambuco, quando tais compensações tributárias resultariam, na verdade, em benefícios à Bari Automóveis, ou seja, empresa da qual o parlamentar seria um sócio oculto”. “Noutras palavras, o senador estaria usando as prerrogativas de seu cargo público para alcançar benefício fiscal em causa própria”, afirmou o relatório da Polícia Federal.
Defesa
A defesa do senador informou que recebeu “com muita tranquilidade o pedido de prorrogação das investigações feito pela PF”. “O que é de se estranhar, contudo, é o fato de que, diante da ausência de compatibilidade entre os relatos dos supostos colaboradores, a autoridade policial passe a criar novas hipóteses absolutamente inconsistentes e que sequer guardam relação aos fatos que investiga”, disse.
Segundo a defesa do senador, “indícios jamais podem significar suposições”. “O senador Fernando Bezerra Coelho não é sócio oculto de qualquer empresa, e todas suas informações fiscais estão devidamente registradas junto aos órgãos de controle. O ponto mais importante dessa investigação é o fato de que, ao final, certamente restará comprovado que as hipóteses criadas por pretensos colaboradores não encontram qualquer respaldo na realidade dos fatos.”
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