Extraindo sorrisos: perdas dentárias ainda são expressivas na saúde pública de Pernambuco
Periodontite, infecção grave nas gengivas, é uma das principais causas das perdas dentárias do mundo
Foto: Reprodução/ G1
No Brasil, ainda é mais comum ir ao dentista para extrair dentes do que para qualquer outro procedimento. Dados do Ministério da Saúde indicam que, apenas em 2022, foram realizadas 1,1 milhão exodontias no país, contra 335 mil restaurações. Isso significa que os números mais expressivos refletem perdas dentárias, ao invés da prevenção e da preservação do sorriso. Em Pernambuco, a limitação nas unidades de saúde e a demora para ser contemplado por um serviço público são os principais fatores que contribuem para a continuidade do problema.
A aposentada Cleonice Maria, hoje com 66 anos de idade, é uma das pessoas que sofreu com a falta de acesso à informação e à saúde. Desde a infância, por não ter condições financeiras, Cleonice conta que se viu sem oportunidades para cuidar da sua saúde bucal. O problema resultou na perda total dos seus dentes com apenas 15 anos de idade.
“Eu tinha 10 anos, morava no interior, muito longe do hospital, e não tinha recurso de nada. Eu sentia muita dor de cabeça, então saía de casa às 5 horas da madrugada para conseguir uma ficha. Quando chegava lá, já falavam que eu teria que arrancar um dente e arrancavam três de uma vez. Com 15 anos, eu já não tinha mais um dente”, relatou a aposentada.
Mas perder todos os dentes ainda na juventude trouxe consequências difíceis para a vida de Cleonice: “Até hoje eu não sei qual é a sensação de mastigar com meus próprios dentes. Eu evito até falar por causa disso. É doloroso, viu?”.
Saúde Bucal em Pernambuco
Segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), atualmente, todos os municípios do Estado possuem pelo menos uma equipe de saúde bucal. No entanto, o presidente do Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco (CRO-PE), Eduardo Vasconcelos, afirma que não existe uma política de saúde bucal consolidada no Estado.
“Em Pernambuco, os funcionários que fazem parte de empresas que disponibilizam plano de saúde odontológico têm acesso a uma odontologia de ponta, uma das melhores do Brasil. No entanto, mais de 80% da população não tem acesso a esse serviço. Essas pessoas sofrem para conseguir uma consulta e quando conseguem, existe a dificuldade de ter a resolutividade do problema. Ele vai muitas vezes para fazer um tratamento mutilador, que é uma extração”, ressalta.
O professor de odontologia da Universidade de Pernambuco (UPE) e especialista em periodontia, Renato Vasconcelos, explicou que, atualmente, a periodontite, que é uma infecção grave nas gengivas, é uma das principais causas das perdas dentárias do mundo. Para romper esse histórico de extrações, o dentista destaca a importância da prevenção.
“Visitar o dentista a cada seis meses, usar fio dental e usar cremes dentais fluoretados são atitudes que vão ajudar para que a população mantenha a sua saúde bucal e evite chegar ao ponto em que é necessário fazer uma extração. Hoje em dia, a gente busca uma odontologia que mantenha os dentes na boca e não que extraia os dentes”.
Trâmite
Apesar dos entraves, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece próteses dentárias, tratamentos de canal, restauração e vários outros tipos de procedimentos. O desafio é fazer com que o acesso a esses serviços seja efetivo, através da facilitação do retorno de um paciente, por exemplo.
A orientação da Secretaria de Saúde de Pernambuco para os pacientes que necessitam de atendimento odontológico pelo SUS é de procurar a unidade de saúde mais próxima e agendar uma consulta com o cirurgião-dentista. Após o atendimento primário, casos mais complexos são encaminhados para a Rede de Atenção à Saúde Bucal. Em casos de dor ou desconforto, também é possível receber atendimento sem agendamento prévio nas urgências odontológicas.
Ouça a matéria da repórter Aline Melo no 'Play' acima.
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