Artistas nordestinos resistem e mantém viva a cultura musical do São João
Foto: Reprodução
A música de um povo representa, em melodia, o seu motivo de existir. E desde Luiz Gonzaga do Nascimento, o Rei do Baião, o Nordeste encontrou a sua voz. Saindo de Exu, no Sertão de Pernambuco, para ganhar a vida no Rio de Janeiro, Gonzaga se tornou uma das principais referências do São João do Nordeste.
Pioneiro de uma cultura musical que, relutantemente, sobrevive até hoje, ele foi responsável por levar ao país os principais ritmos juninos, os quais também transitaram pela carreira de Dominguinhos, batizado com esse nome pelo próprio Rei do Baião, e de tantos outros artistas nordestinos. Embora se misturem, cada ritmo carrega a sua singularidade: do baião, passando pelo arrasta-pé, xaxado, xote, até o forró de pé de serra.
Protagonismo
No entanto, quem vive desses ritmos sabe que os desafios são diversos. O cantor Maciel Melo, com mais de 40 anos de carreira, afirma que o principal deles é, além do reconhecimento, preservar a tradição e a identidade do São João. Para ele, é fato: o forró vem perdendo o espaço na festa em que deveria ser protagonista.
Cantor Maciel Melo - Arquivo pessoal
“A trilha sonora do São João é forró, gente! Eu fico triste vendo os artistas, que passam a vida inteira alimentando o nosso sotaque e alimentando essa cultura para que ela não vá embora e nem caia no esquecimento, perder espaço nessa época. Mas os artistas de outros gêneros não são os culpados, eles não têm nada a ver com isso”, afirma.
Esse mesmo sentimento é compartilhado por “Santanna, O Cantador”, que é um dos nomes mais prestigiados do São João nordestino. Para ele, manter a tradição é preservar o São João.
Santanna, o Cantador - Arquivo pessoal
“Eu peço consciência política dos gestores para não transformar nossa festa junina num festival como outro qualquer. A nossa festa se tornou grande desse jeito por ser diferente, e quando você é diferente, facilmente é notado. Se os gestores transformarem o nosso São João num festival, aí vai perder a essência e vai deixar de existir, porque perdeu a razão”, acredita.
Inovação
Para manter a cultura viva, uma das saídas encontradas por esses artistas é inovar sem perder as raízes. Assim como Maciel Melo e Santanna, o Maestro Forró - que só pelo nome entrega a forte ligação com os ritmos do São João - encontrou uma forma curiosa de fazer ouvir a sanfona, eternizada por Luís Gonzaga, sem a presença dela: é o Fole Assoprado.
Maestro Forró - Arquivo pessoal
“Esse projeto nasceu em 2005 e um dos objetivos principais é reproduzir o som do fole da sanfona através dos instrumentos de sopro ou “assopro”, como diz o nosso querido matuto do nordeste brasileiro. Os arranjos são executados pela Orquestra Popular da Bomba do Hemetério na sua formação completa: instrumentos de sopro e percussão. Não temos sanfona, mas conseguimos reproduzir o som de uma”, conta.
Utilizando músicas autorais e composições dos grandes mestres, como Sivuca e Jackson do Pandeiro, o Fole Assoprado, sob a regência de Maestro Forró, mostra o poder e a capacidade criativa dos músicos nordestinos.
Da tradição à inovação, o São João resiste e continuará existindo pelo canto do seu povo.
Ouça a matéria especial dos repórteres Aline Melo e Lucas Arruda no 'Play' acima.
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