A queda da aeronave influenciou os rumos da Política nacional e interrompeu a trajetória do pernambucano, cuja memória hoje é celebrada
Foto: Alexandre Severo/PSB
Há dez anos, um acidente aéreo em Santos, no Litoral de São Paulo, vitimava o então candidato à presidência da República e ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O líder do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e outras seis pessoas estavam a bordo de um Cessna 560XL Citation Excel, prefixo PR-AFA, que seguia do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, à Base Aérea de Santos, no Guarujá. A queda da aeronave em um terreno baldio, cercado por comércios e residências, influenciou nos rumos da Política nacional e interrompeu a trajetória do pernambucano que hoje tem a sua memória celebrada.
Eduardo Campos
Antes de ser político, Eduardo Henrique Accioly Campos é recifense, nascido em 10 de agosto de 1965. Filho da ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) Ana Arraes e do poeta Maximiano Campos (1941-1998), o então economista formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), aos 20 anos, foi convocado pelo avô, Miguel Arraes (1916-2005), governador do estado, para ser chefe de gabinete. Três anos após, Campos se filiou ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) - sigla pela qual se elegeu deputado estadual, em 1990; deputado federal, em 1994, e governador de Pernambuco entre 2007 e 2014.
Foto: Givaldo Barbosa/O Globo - Miguel Arraes e Eduardo Campos
Nesse meio tempo, Eduardo, formado nas bases da política de Arraes, também se incorporou ao lulismo, tendo aceitado o convite do presidente Lula, em seu primeiro mandato, para assumir o cargo de ministro da Ciência e Tecnologia.
Foto: Ricardo Stuckert/PR - Eduardo Campos e Lula
Legado
Foi na educação, no entanto, que Campos deixou o seu principal legado, especialmente na disseminação do modelo de escola em tempo integral. Quando assumiu o governo de Pernambuco, eram 10 instituições de ensino nesse formato. Em 2024, são 567, entre Escolas de Referência em Ensino Médio, Fundamental e Técnico, colocando Pernambuco como referência nacional.
O cuidado com a educação, segundo o seu filho e deputado federal Pedro Campos (PSB), era exemplo até mesmo dentro de casa.
“Ele era um pai muito presente, muito afetuoso, muito carinhoso, e que também fazia questão de passar para os filhos valores fundamentais. Dentre eles, o valor de poder se formar, de cuidar da educação, de se dedicar à educação. Ele era tão exigente quanto governador como era na hora de olhar as notas da gente”, conta Pedro.
Foto: Chico Ferreira/Câmara dos Deputados - Pedro Campos (PSB)
PSB
O diálogo também é uma das principais marcas da vida do ex-governador. Quem trabalhou com ele, como o deputado estadual Sileno Guedes (PSB), lembra da capacidade que Eduardo tinha de articular e compreender os rumos da política. Além disso, a memória era um dos seus pontos fortes. Da Região Metropolitana do Recife ao Sertão do Pajeú, era difícil ele não lembrar o nome de cada correligionário ou opositor.
Por isso, o lugar de destaque na presidência do Partido Socialista Brasileiro, em dois mandatos (2005 a 2006 e 2011 a 2014), fez com que o partido ampliasse a sua relevância.
“Um grande legado da política que Eduardo deixou foi o crescimento e o fortalecimento do partido como um todo, no Brasil inteiro. Arras trouxe um crescimento para o PSB e Eduardo, sem sombra de dúvidas, consolidou esse crescimento. Capilarizou o partido no país inteiro, e aqui em Pernambuco, a força política de Eduardo fez com que o PSB se tornasse o que é hoje”, afirma o deputado estadual Sileno Guedes, que é presidente estadual da sigla.
Foto: Reprodução/Instagram
Da esquerda para direita, o presidente Lula (PT); o ex-prefeito do Recife e deputado estadual João Paulo (PT); o ex-governador Eduardo Campos; e o deputado estadual Sileno Guedes (PSB)
O jornalista Evaldo Costa trabalhou diretamente com Campos como Secretário de Comunicação, e destaca no político a capacidade de ouvir.
“Ele tinha um compromisso fundamental com as pessoas que mais precisam, e tinha uma capacidade gigante de juntar a gente. Eduardo não andava só, nem figurativamente, nem literalmente. E a política dele foi (feita) formando um enorme contingente de pessoas que o seguiram. Era confortável estar sob a liderança dele, porque era uma liderança que não se exercia de cima para baixo. Aliás, a frase favorita dele era ‘a gente não nasce com uma boca e duas orelhas por acaso’”, relembra Evaldo.
Foto: Reprodução/MaisPB - Eduardo Campos e Evaldo Costa
O colunista de Política da CBN Recife, Elielson Lima, também fala de Eduardo enquanto articulador político, e relembra que foi estagiário de imprensa em sua gestão no governo estadual.
"Trabalhar com Eduardo era estigante, e ao mesmo tempo, envolvente. Ele tinha um reflexo e um 'feeling' (percepção) muito grande para produzir novos quadros. Muitas das coisas que eu tenho hoje, das análises dos bastidores, das fontes que foram criadas ao longo do tempo, devo aos anos ao lado do governador Eduardo Campos", afirma Elielson.
Foto: Reprodução/Blog do Elielson
De Pernambuco para o Brasil
Em seu segundo mandato como governador de Pernambuco, reeleito com 80% dos votos válidos em primeiro turno, Eduardo decidiu ampliar a sua trajetória política para o cenário nacional. Renunciando ao governo estadual, compôs chapa com a ex-senadora Marina Silva para disputar a presidência da República em 2014.
Campos ocupava o terceiro lugar nas pesquisas, mas tinha convicção de que poderia reverter esse cenário até os últimos dias da campanha, que tinha Aécio Neves (PSDB) e a então presidente Dilma Rousseff (PT) despontando nas primeiras colocações.
Fato é que o dia 13 de agosto de 2014 ficou marcado não somente pela interrupção de uma trajetória política bem sucedida e admirada, mas também por influenciar nos rumos que o Brasil seguiu anos à frente, como pontua Pedro Campos (PSB).
“Quando acontece aquilo (o acidente) com meu pai, a história muda completamente. É um fator que alterou completamente a história do Brasil e a linha que o Brasil seguiria. Eu tenho convicção, primeiro, que ele seria eleito presidente. Depois, que mesmo se não fosse eleito, ele seria um ator político muito importante para não permitir que o Brasil tivesse feito o retrocesso que foi a eleição do presidente Bolsonaro. Foi uma indignação que existia com a política, que foi canalizada pelo pior caminho que poderia ter sido. E que eu acho que Eduardo conseguia também canalizar muito dessa indignação, mas com um caminho muito melhor”, acredita o deputado e filho.
Tempo
O jornalista Evaldo Costa acredita que ainda não é possível precisar o tamanho de Eduardo Campos enquanto figura política para Pernambuco e para o Brasil. No entanto, aqueles que com ele estiveram, levam vivamente o seu legado.
“Daqui a pouco vai ser possível ter uma perspectiva histórica de que foi o maior líder político de Pernambuco de todos os tempos, tendo (Miguel) Arraes como um parâmetro muito forte ao lado. Porque são poucos os líderes que conseguem, como ele conseguia, ser um grande parlamentar, ser um grande gestor, ver as macrocorrentes da política, e ter um ‘feeling’ (percepção) extraordinário para se antecipar e acertar para onde o vento sopra”, pontua Evaldo.
Homenagens
Em celebração à memória do ex-governador de Pernambuco, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) abriu, no último sábado (10), o "Ano Eduardo Campos", com o tema "60 anos - Um legado", reunindo lideranças do partido, amigos e familiares. Até 2025, vários momentos, como o lançamento de um livro, devem evidenciar as histórias e vivências de Campos.
Nesta terça-feira (13), às 11h, uma missa será celebrada na Igreja de Casa Forte, Zona Norte do Recife, pelos 10 anos da morte de Eduardo e 19 anos do falecimento de Miguel Arraes, seu avô, que faleceu na mesma data. Além disso, também estão marcadas sessões na Câmara dos Deputados, em Brasília, e na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), como destaca a coluna especial do Blog do Elielson.
Eduardo Campos deixou a esposa, Renata Campos, e cinco filhos. Além de amigos, admiradores e seguidores do seu legado.
Foto: Reprodução/Instagram - Família Campos
Ouça a matéria do repórter Lucas Arruda no 'Play' acima
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