Cirurgia ortognática: procedimento une procura por saúde e estética
A intervenção reposiciona os ossos da mandíbula em diferentes graus de assimetria
Foto: Reprodução/Internet
Passar por uma cirurgia altera a vida de um paciente, seja por questões físicas ou psicológicas. E quando a intervenção interfere na aparência, as mudanças ficam ainda mais evidentes. É o caso da cirurgia ortognática, procurada por pacientes tanto por saúde quanto por estética.
A ortognática reposiciona os ossos da mandíbula em diferentes graus de assimetria, o que fica mais perceptível quando o queixo está muito para trás ou para frente, causando o encaixe incorreto dos dentes superiores e inferiores; e por consequência, comprometimento facial.
A cirurgia
A odontologista Renata Apolinário, especialista em ortodontia e profissional que acompanha a evolução dos pacientes desde o primeiro momento, explica que cada caso é único. O tempo do tratamento depende de diversos fatores, entre eles, o quanto a natureza conseguiu “maquiar” o problema.
“O tempo varia conforme a quantidade de compensação que o paciente apresenta. Quanto mais compensado pela natureza o paciente está, mais trabalho a gente vai ter para descompensar tudo, voltar ao natural, para depois corrigir o osso - seja para frente, para trás, para cima ou para baixo”, aponta.
Foto: Reprodução/Internet
Dados da Sociedade Brasileira de Odontologia (SBO) mostram que 25% a 30% da população brasileira possui algum tipo de desarmonia facial. Algo em torno de 63 milhões de pessoas, utilizando como base o Censo de 2022.
Para o cirurgião bucomaxilofacial André Olsen, que realiza a ortognática, o entendimento e procura sobre a cirurgia tem aumentado.
“Era uma cirurgia que não existia o que a gente chama de planejamento virtual. Ou seja, o paciente não sabia como ficaria. E era uma cirurgia muito demorada, de grande porte, e que o paciente ficava com a boca amarrada durante um grande período. Isso assustava as pessoas. Hoje não. Com o planejamento virtual e com o desenvolvimento das técnicas cirúrgicas, a gente tem uma cirurgia feita em 3h ou 4h, no máximo. É mais rápida e o paciente incha menos”, destaca o cirurgião.
Foto: Reprodução/Santa Casa de Misericórdia de Itabuna
Motivação
Em muitos casos, a necessidade da cirurgia só é descoberta quando questões básicas são afetadas, como o sono. Foi assim com a pesquisadora Ana Carina. Após 15 anos do diagnóstico, ela percebeu que seria necessário deixar o medo de lado e fazer a cirurgia.
"Na época eu achava que era só estética, então eu dizia: ‘não, besteira, vou viver com isso’. Mas fiz principalmente por problemas funcionais, como a respiração. Eu também ficava forçando, lutando sempre para estar disfarçada. Eu não tirava foto de perfil de jeito nenhum! No meu casamento foi o que eu mais falei para o fotógrafo”, conta.
A relação entre aparência e bem-estar foi medida em um levantamento realizado pela plataforma Opinon Box. Quase metade dos entrevistados (47%) afirmaram que aspectos do próprio corpo interferem diretamente na autoestima e na busca por soluções que tragam felicidade.
A psicóloga Ana Cristina Fonseca, professora do Centro Universitário Frassinetti do Recife, lembra que se sentir bem com a própria aparência também corresponde a expectativa sobre o olhar do outro - principalmente em tempos de superexposição da imagem. No entanto, ela reforça que há um diferencial na ortognática.
“No caso da cirurgia ortognática, que vai mexer diretamente no formato do rosto, pode sim ter alguns efeitos psicológicos, pensando que o corpo faz parte da nossa constituição. Mas não somente do ponto de vista da preocupação que uma mudança pode ocasionar, porque esse tipo de cirurgia resolve situações para além do estético”, avalia.
Dúvidas
A enfermeira Carol Lima Barreto, assim como a pesquisadora Ana Carina, evitava tirar fotos de perfil e sofria com problemas funcionais, a exemplo da apneia do sono. Ambas tinham o queixo pequeno, chamado de Classe 2. Ou seja, a mandíbula estava mais recuada que o ideal. Também existem os tipos Classe 1 (padrão) e Classe 3, quando o queixo fica à frente durante a mordida.
Foto: Reprodução/Internet
Após a cirurgia, Carol conta que foi trabalhar com um cirurgião bucomaxilofacial, há cerca de 5 anos. Como quem viveu a ortognática, ela sentiu a necessidade de criar um perfil nas redes sociais para compartilhar algumas de suas experiências. O que começou de maneira voluntária, hoje, está vinculado ao próprio trabalho.
“Eu sempre digo aos pacientes que vão fazer a cirurgia que o medo faz parte. A partir do momento que a gente conhece o processo, vamos desmistificando as coisas e perdendo o medo. É preciso entender que, se temos um problema de saúde hoje, ele vai incomodar para o resto da vida”, afirma.
Foto: Reprodução/Instagram Ortognática Humanizada
Entre as principais dúvidas, o retorno das atividades cotidianas é a mais comum, conta o cirurgião André Olsen.
“A partir de 15 dias, o paciente já está voltando para suas atividades. Claro, com certas restrições, e o que demora um pouco mais para voltar aí a normalidade é a alimentação. Mesmo que ele esteja com a boca aberta, é o processo de cicatrização de uma fratura provocada na hora da cirurgia, então não pode ter carga de forma alguma, principalmente na mastigação. Por pelo menos 45 dias o paciente precisa ter uma alimentação mais molinha”, explica.
Pós-operatório
Superadas as dificuldades do pós-operatório, a odontologista Renata Apolinário destaca os resultados para uma verdadeira mudança de vida. Ela também revela a felicidade em ver o sucesso de todo o procedimento.
“É muito massa! Quem vê o paciente todo mês para deixar tudo certo, escutando as demandas do cirurgião, escutando demanda do próprio paciente - os medos dele, as expectativas. A gente participa de tudo, é parte ativa nesse processo. Então, é muito gratificante quando tudo se concretiza e o paciente fica feliz. Realmente, é emocionante, a palavra é essa”, afirma.
No rol das cirurgias oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a ortognática é um divisor de águas na vida dos pacientes. Na saúde, a cirurgia permite melhores condições de mastigação, respiração e sono. Na estética, ela contribui para o fim de uma briga constante com o espelho e com a mente.
Com produção de Lucas Arruda e sonorização de Lucas Barbosa, reportagem Maria Luna
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