Banda Curica, de Goiana, discute presença feminina e influências negras nas filarmônicas
A Curica é a filarmônica mais antiga da América Latina
Foto: Divulgação/Curica
A Banda Curica, de Goiana, na Mata Norte de Pernambuco, promoveu um ciclo de palestras discutindo temas como a presença das mulheres nas bandas de música, entre invisibilidades e desafios, e as influências negras no município, sob a perspectiva da história da própria instituição. A Curica é a filarmônica mais antiga da América Latina, com 176 anos de atividade no movimento cultural das bandas de música, uma marca da Mata Norte.
As palestras foram voltadas aos membros e alunos da filarmônica, ministradas pela coordenadora do Programa de Inclusão através da Música e das Artes da Paraíba (PRIMA), Bruna Bonfim, 1º Fagote da Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa; e pelo historiador e doutorando em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Bartolomeu Jr.
De acordo com a coordenadora pedagógica da Banda Curica, Cristian Silva, para além do ensino musical, a instituição busca oferecer aos alunos uma formação histórica e social, conversando com os quase 200 anos de serviços prestados à Goiana.
“A partir daí, ele (o estudante) começa a perceber que não é a banda simplesmente pela banda. Ele está dando sequência a uma história que surgiu com o Conrado Nunes, em 1848. E foi uma ótima oportunidade! Os alunos fizeram bastantes perguntas, e são momentos como esse que fortalecem o que a gente já sabe: para se formar um profissional, para se formar um músico, é necessário não apenas os conteúdos. É necessário que ele se perceba como parte importante na história da nossa cidade e da instituição”, afirmou.
Presença feminina
Atualmente, a Banda Curica conta com 75 alunos. Desses, cerca de 40% são mulheres. Uma quebra de paradigma dentro do próprio movimento das bandas de música da Mata Norte, tradicionalmente masculina, e que inviabilizaram a presença feminina durante décadas.
A fagotista e palestrante Bruna Bonfim é fruto da escola de música da Banda Curica, e pôde apresentar aos estudantes e músicos alguns dos desafios e conquistas em anos de luta das mulheres no meio musical.
Foto: Divulgação/Curica - Bruna Bonfim é a sexta mulher de pé, da direita para a esquerda, de camisa cor bege
“Nesta palestra, eu abordo a trajetória das mulheres no universo das bandas de música, um espaço que é historicamente dominado por homens. São histórias de luta, resistência, superação e que marcaram o caminho de tantas musicistas ao longo do tempo, incluindo a minha própria experiência musical como mulher”, disse.
Raízes negras
O historiador Bartolomeu Jr. também avalia a importância de abordar as raízes negras da instituição e da própria cidade de Goiana, cuja identidade negra é bastante presente, aos jovens estudantes.
“Durante muito tempo houve esse apagamento e esse anulamento das nossas negritudes, da nossa herança negra. Então, a gente reflete sobre essas contribuições e outras reverberações dentro do município, que fervilha a cultura negra. Não é uma luta só dos negros. É uma luta de todos por mais empatia, por mais respeito, tolerância”, reforçou.
Foto: Divulgação/Curica - Bartolomeu Jr., ao centro, ministrando a palestra
Em plena atividade, a Banda Curica, de Goiana, mostra a importância de promover uma educação fincada no conhecimento histórico e social.
Reportagem - Lucas Arruda
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