A DECISÃO DE PILATOS
“No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise”. (Dante Alighieri)
Foto: Divulgação
Quinto dos sete procuradores romanos, que de 6 a 41 d.C governaram Samaria, Idumeia e a Judeia. Durante dez anos, de 26 a 36 d.C., o cargo foi exercido por Pôncio Pilatos. Historiadores como Filo faz menção em uma carta de Agripo I, onde apresenta Pilatos como um ser inflexível, bastante severo e de conduta irrefletiva. Além do mais, afirma que sua administração era recheada de corrupção, furtos, maus-tratos ao povo, violência e de julgamentos cruéis. Além de maneira proposital, tinha prazer em ultrajar o sentimento religioso do povo judeu. Sua forma despótica de governar levou ao governador da Síria (Vitélio) o enviar ao imperador Tibério para prestar conta das crueldades praticadas. Porém, só no ano 37, consequentemente depois da morte de Tibério, Pilatos cometeu suicídio. Entretanto, a fama de Pilatos na história ficou marcada pela postura que adotou no julgamento de Jesus.
Sendo da competência de Pilatos o destino da vida e da liberdade de Jesus, caberia a ele libertá-lo, mas com receio de contrariar o desejo da maioria, preferiu condená-lo a morte. Onde de maneira simbólica, lavou as mãos perante o povo alegando não ter nenhuma responsabilidade sobre o feito condenatório, deixando a responsabilidade nas mãos do povo. Todas as vezes que “lavamos as mãos” diante de um ato em que cabe a nós decidirmos, estamos adotando a mesma postura de Pilatos.
Democracia subentende-se a participação de todos. Se temos o direito de participarmos e preferimos nos esquivar, é uma maneira cômoda, de não participar dos momentos decisivos da história. Reproduzindo o comportamento como forma de dizer, que não tem responsabilidade com relação ao quadro presente e até mesmo futuro. Mas não se pode esperar conduta diferente, de quem foi forjado pelos trilhos do autoritarismo de um Pôncio.
Hely Ferreira é cientista político.
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