
Frevo: há mais de um século no coração dos pernambucanos
Artistas unem tradição e inovação para preservar o ritmo centenário

Foto: Divulgação/Prefeitura de Olinda
Há mais de um século se ouve frevo em Pernambuco. Incansável, ao longo dos anos, o ritmo e os artistas que o constroem se adaptaram às demandas do público e às tecnologias de divulgação do trabalho. Novos elementos foram incorporados no som e na dança, mas tem coisas que não mudam. Onde houver orquestras, passistas, blocos, cantores e foliões, ali estará o frevo.
Conexão e releitura
Para muitos pernambucanos, o Carnaval é uma tradição que vem de berço, e o frevo acompanha. Foi assim com o cantor André Rio.
“Eu sou do bairro de São José, onde nasceu o frevo. Desde criança convivo com esse universo lúdico das fantasias, com o som das orquestras ensaiando, com as agremiações se preparando para sair no Carnaval. E dei a sorte de meu pai ser compositor de frevo. Inclusive, ele é um dos fundadores do Galo da Madrugada, maior bloco carnavalesco do mundo”, revela.
Como se não bastassem tantas referências, o cantor ainda é sobrinho de um dos principais maestros da história do frevo pernambucano: José Menezes. Ou seja, só podia dar em frevo.
Outro artista da capital que leva o frevo para o mundo é o Maestro Forró. É na Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, da Zona Norte do Recife, que o trabalho desenvolvido há mais de 30 anos ganha corpo, fazendo lembrar que o frevo é filho da mistura de elementos. Forró não deixa de lado quatro pilares: pesquisa, manutenção, releitura e interação.
“O frevo que o Maestro Forró faz liquidifica várias coisas. Por exemplo, eu gravei Vassourinhas e fiz uma releitura onde começa no estilo tradicional e daqui a pouco vira uma valsa, como se fosse Strauss tocando Vassourinhas. Daí volta pra frevo, mas depois vira maracatu, blues e volta para Vassourinhas tradicional”, conta.
Durante muito tempo, Maestro Forró foi questionado e até mesmo criticado por incrementar tantos elementos ao frevo. Mas a própria história do ritmo conta que, sem criatividade e diálogo com o novo, ele não existiria.
“O Maestro Forró coloca para conversar o frevo com o maracatu, com o caboclinho. O maracatu rural da Zona da Mata Norte de Pernambuco tem tudo a ver com o frevo. Então, está tudo muito interligado. Então o frevo do Maestro Forró “eruditiza” o popular e populariza o erudito. O mesmo show que a gente toca no Teatro Santa Isabel, a gente toca na rua”, garante.
E é por isso que, entre o tradicional e o novo, a rua e o palco, o frevo sempre se renova, como acredita o cantor André Rio.
“Claudionor é o maior cantor de todos os tempos, professor de todos nós. E temos grandes maestros, como Duda, Guedes Peixoto, Clóvis Pereira e Nunes, que deixaram para nós, dos anos 1990, esse legado. E nós - André Rio, Almir Rouche, Maestro Spok, Maestro Forró, Marrom Brasileiro, Nena Queiroga - adaptamos e fomos trazendo até agora. E eu fico muito feliz em ver essa gente jovem fazendo frevos novos, como a Orquestra Malassombro, Martins e Almério. Cada um dando seu toque, mas o frevo não perde sua originalidade que fala diretamente com o coração das pessoas”, relata.
E mais uma vez é Carnaval. Até que a ingrata Quarta-feira de Cinzas chegue, o frevo reina soberano em Pernambuco.
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