30% dos idosos já relataram sintomas de ansiedade no Brasil

Foto: Arquivo Pessoal/Angela Calumby
Ansiedade: o transtorno conhecido por potencializar sentimentos como aflição, angústia e medo. Considerada, por muito tempo, como a “doença da nova geração”, dados mais recentes mostram que a população ansiosa não se resume aos jovens. Idosos compõem esse grupo cada vez mais.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostrou que 30% dos idosos já relataram sintomas de ansiedade no Brasil, que é, inclusive, considerado um dos países mais ansiosos do mundo pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A psicóloga Giedra Marinho explica que a ansiedade na terceira idade costuma se manifestar por dois motivos. O primeiro é o sentimento de improdutividade. Quem teve uma vida agitada, e muitas vezes, atuou em funções de comando, não costuma aceitar o ócio da aposentadoria. Aquilo que um dia até pode ter sido um sonho, vira pesadelo.
“Com a aposentadoria e o fim do ciclo do trabalho, as pessoas deixam de se achar produtivas. Além disso, também há a questão financeira, que é muito séria, já que muita gente não se aposenta com valor integral de salário. Surgem questionamentos como: E agora, eu acordo e faço o quê? Como eu vou conseguir me manter? Vou conseguir ajudar a minha família? Então, o fim de um ciclo produtivo gera, naturalmente, essa ansiedade. Principalmente porque muitos não conseguem preencher esse tempo e não buscam atividades. Isso é muito sério porque pode causar, por exemplo, vícios e aumento do peso”, explica a especialista.
O segundo motivo é o sentimento da solidão, compartilhado por muitos idosos. Com o passar do tempo, além da perda dos parentes mais velhos ou da mesma geração, os filhos “ganham asas” e saem de casa. E ver a casa, que um dia esteve cheia e vibrante, se transformar em um espaço silencioso, do dia para noite, adoece. É o que a psicologia chama de Síndrome do Ninho Vazio.
“Os filhos e netos vão embora e a pessoa fica só. Sem acompanhamento, vários fatores geram ansiedade. Como por exemplo, a proximidade com a questão da finitude da vida e doenças associadas”, afirma Giedra.
A ansiedade também pode ser causada por um desequilíbrio de neurotransmissores que regulam o humor por fatores genéticos, traumas ou até por altos níveis de estresse. Os sintomas variam em cada paciente, mas incluem arritmias, boca seca, tensão muscular e constipação. Em alguns casos, o diagnóstico também pode demandar o uso de medicamentos.
Para muitas gerações, a ansiedade nunca foi vista com seriedade. Palavras como “frescura” ou até mesmo “besteira” acompanharam a vida de muitos daqueles que apresentavam os sintomas.
Foto: Reprodução/Internet
No caso da aposentada Angela Calumby, o alerta da ansiedade só foi ligado em meio ao tratamento de um câncer. A doença a atingiu pela segunda vez; agora, no duodeno. Com uma alimentação limitada e uma rotina cansativa de exames e quimioterapia, ela decidiu iniciar um acompanhamento psicológico para auxiliar no controle da sua ansiedade.
“Eu nunca tinha ido ao psicólogo na minha vida. Só agora, na boa idade, que iniciei terapia. Quanto tempo eu perdi! A minha psicóloga tem me ajudado bastante nesse momento crucial da minha vida, inclusive para minimizar a minha ansiedade”, conta Angela.
O neuropsiquiatra Spencer Júnior conta que irritabilidade, nervosismo e alteração do sono e do raciocínio costumam ser as principais consequências, do ponto de vista cognitivo, nas pessoas diagnosticadas com ansiedade. Falando de idosos, a atenção deve ser redobrada, pois traumas e outras questões mal resolvidas ao longo da vida podem retornar com mais intensidade e atrapalhar o tratamento.
"No que diz respeito às medidas que devem ser tomadas após a identificação de sinais, é o encaminhamento imediato aos profissionais especializados. No caso, ou um neuropsiquiatra, ou um geriatra, ou um psiquiatra e um psicólogo, para combinar o tratamento psicofarmacológico com provável combinação entre antidepressivos e ansiolíticos, e o tratamento psicoterapeuta, que é muito importante. Agora cada caso é um caso, pode-se inserir aí outras medicações complementares", relata o neuropsiquiatra.
Entre as adversidades da vida, Angela Calumby também busca refúgio na poesia, na dança, na família e nos amigos.
“Eu não cuido somente da minha saúde física e espiritual, mas também da mental. No sentido de sair, passear, de dançar. Adoro dançar! Brindar com meus amigos, de conversar "sessão besteirol", e de estar sempre com eles. Além de estudar francês e fazer minhas poesias. Não escondo meus sentimentos. E fazer tudo de bom", conta a aposentada.
Foto: Arquivo Pessoal - Angela, em férias, com os filhos
Angela é uma entre tantos idosos diagnosticados com ansiedade no Brasil. Cada um com a sua história, tratamento e a sua luta, tentam lidar com a frenesia de um tempo descompassado e intenso na época em que, para eles, o ritmo já não precisaria ser tão acelerado. E isso mostra que cuidar da mente demanda um planejamento a longo prazo, principalmente em um mundo cada vez mais complexo e doente.
Reportagem - Aline Melo e Lucas Arruda
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