Síntese da trajetória política de Arraes

Por Ítalo Rocha*
 

O ano de 1959 não estava começando bem para Miguel Arraes. Ele tinha acabado de perder a reeleição para deputado estadual no pleito de 1958. Os analistas atribuíam esse imprevisto ao fato de Arraes não ter tido tempo pra cuidar da sua campanha à Assembleia Legislativa por ter sido também o coordenador da campanha vitoriosa de seu concunhado, Cid Sampaio, ao Governo de Pernambuco. Arraes e Cid eram casados com duas irmãs (Célia e Dulce Souza Leão, respectivamente). E os dias estavam parecendo mais longos para Arraes porque se aproximava a data de se despedir da cadeira de deputado. Mas, como dizia o ex-governador Magalhães Pinto (MG): “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. E foi o que aconteceu com Miguel Arraes. Naquele céu que ele estava vendo carregado de nuvens, de repente apareceu um sol irradiante. Essa perspectiva lhe foi apresentada por algumas pessoas do Recife identificadas com as causas progressistas. À frente, estava o comunista Carlos Duarte, do PCB.
O grupo procurou Arraes na sua casa, no bairro do Zumbi, ali nas imediações da Caxangá, no Recife, onde ele morava com a família. A proposta foi curta, objetiva e direta: 
Doutor Arraes, nós viemos aqui convidá-lo para ser o candidato do nosso grupo à Prefeitura do Recife! Miguel Arraes tomou um susto e quase pulava da cadeira de balanço onde estava confortavelmente sentado. Olhou nos olhos de cada um, pensou no revés que acabara de ter nas urnas e respondeu: 
Como posso ser candidato a prefeito do Recife se tenho tão pouquinhos votos? O silêncio tomou conta daquele terraço até então ventilado. Parecia que o tempo tinha travado. Mas, eis que um dos interlocutores tomou coragem e pôs as cartas na mesa: nós falamos em convite por delicadeza, mas se trata de uma intimação e o senhor não terá outra escolha a não ser se candidatar. Agora, vale citar Tancredo Neves: “Política é destino!”.  Arraes se candidatou, ganhou aquela eleição para prefeito do Recife, depois foi governador três vezes de Pernambuco e quando morreu, em 2005, aos 88 anos, estava em pleno exercício do seu terceiro mandato de deputado federal!

* Jornalista