Prefeitura de Serrita e Paróquia firmam convênio e excluem família de Padre João Câncio, criador da Missa do Vaqueiro de Serrita

A maior surpresa da edição 2023 da Missa do Vaqueiro não foi nenhuma grande atração musical. Mas a ausência dos familiares do fundador do evento na organização da festa. Segundo a Fundação João Câncio, a instituição foi praticamente deixada de fora após a assinatura de um convênio entre a paróquia e a Prefeitura de Serrita, cidade do sertão pernambucano onde acontece a missa, a 535 km do Recife.

De acordo com a Fundação, que ao lado da igreja católica tocou a parte cultural por mais de 20 anos, a relação começou a azedar em 2022 e este ano, após um acordo firmado entre o executivo municipal e a paróquia, a família do idealizador, Padre João Câncio, foi excluída de qualquer decisão relativa ao evento, já que a somente a gestão municipal, a paróquia e a diocese respondem pela gestão da festa.

Ontem, a Fundação recebeu da diocese o roteiro da missa, na qual a participação de músicos, artistas populares e até os vaqueiros – razão da existência do evento – foi reduzida. Ficou instituído, entre outras coisas que, “as leituras serão feitas pelos indicados pelo Celebrante e Concelebrantes, podendo serem inclusos ou não os vaqueiros. Quanto ao Salmo Responsorial, ele não será cantado, mas proclamado”.

As orientações seguem: “As preces serão lidas pelo Celebrante, Concelebrantes e pessoas indicadas pelas Paróquias e, também, os vaqueiros. Durante o Ofertório, os vaqueiros poderão depositar indumentárias e apetrechos próprios dos vaqueiros, contudo, em silêncio e sem manifestação. Não serão lidos textos. Naquele instante somente se ouvira a execução do canto do Coral de Aboios.”

E arremata: “No que pertine a execução de músicas antes e depois da celebração, a Diocese de Salgueiro e tampouco a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição possui liberalidade para tanto, pois foge dos termos estipulados no convênio firmado com a municipalidade. Logo, entendemos, somente ela pode autorizar.”

Acontece que a Fundação já havia contratado artistas populares locais que tradicionalmente participam da missa, que recebem cachês que ajudam no seu sustento.

A Missa do Vaqueiro homenageia Raimundo Jacó, que na sua época era considerado uma lenda viva. Morreu em 1954 quando arrebanhava o gado na caatinga. Seus feitos foram imortalizados na voz de Luiz Gonzaga. Gonzagão e o poeta Pedro Bandeira foram os grandes incentivadores do Padre João Câncio para a realização da primeira missa em homenagem a Jacó, realizada no local onde foi encontrado o corpo do vaqueiro.