Opinião | Proibido divergir
O nascimento da democracia se deu pela falta de respostas aos anseios do cidadão. Aos poucos, o mito foi sendo substituído pelo logos e consequentemente o fortalecimento do debate na Ágora. Acontece que viver em um regime democrático não é tarefa fácil, pois o que muitas vezes predomina é o desejo de impor o que se pensa e ai de quem discordar. Divergir tornou-se uma modalidade de crime, onde todos são “persuadidos” à corroborarem com o mesmo pensamento. Assim, vão construindo cada vez mais uma sociedade inspirada na razão instrumental, como diria Horkheimer. Além do mais, o palco da selvageria tem se transformado em algo banal, lembrando o que já havia sido alertado pela Hanna Arendt.
Ao longo da história, ter posições contrárias aos que se sentem os donos da história, sempre foi desafiador. Não foi debalde o que fizeram com Sócrates e não somente ele. Para tanto, lembremos da famosa “Santa Inquisição”, em que em nome do sagrado, praticou-se inúmeras atrocidades com o semelhante. Tudo em nome do Espírito Absoluto. É bem verdade, que a mente humana possui capacidade para criar coisas benéficas e maléficas e como atualmente não há espaço para práticas inquisitórias, não significa dizer que as mesmas foram extirpadas da mente humana. Elas estão presentes de maneira recauchutada e quem divergir, será no mínimo colocado no ostracismo.
Olinda, 26 de novembro de 2022.
Sem ódio e sem medo.
Hely Ferreira é cientista político.