Opinião | Pensou em dizer

O dramaturgo Dias Gomes entre tantas obras reverenciadas, certamente, a mais popular é O Bem Amado. A mesma saiu das páginas do livro e se notabilizou na televisão brasileira. Entre os personagens, merece reverenciada atenção o prefeito da cidade de Sucupira, o coronel Odorico Paraguaçu, interpretado pelo saudoso Paulo Gracindo.

Detentor de um vocabulário próprio, fazendo inveja a qualquer filólogo, o coronel buscava através dos arroubos oratórios, ludibriar o povo surucupirano. Seus discursos eram carregados de frases de efeitos, onde não raras às vezes de autores desconhecidos e inexistentes, costumando atribuir a personagens famosos da nossa história. Assessorado pelo seu fiel escudeiro Dirceu Borboleta, os discursos de Odorico eram dantescos. Quase que rotineira, no meio dos pronunciamentos, o prefeito citava uma frase e atribuía a mesma a outra pessoa. Seu secretário, sempre atento sussurrava dizendo-lhe que a frase não era de quem ele havia denominado como o autor. De maneira sagas, Odorico retrucava com a seguinte “pérola”: se não disse, pensou em dizer.

Não faz muito tempo, um nobre causídico em sua sustentação oral realizada na Suprema Corte do país, atribuiu a autoria de uma frase a outro autor, além de confundir o nome da obra. Mas recente, o governador do segundo maior colégio eleitoral do Brasil, postou em suas redes sociais uma frase em que atribuía a autoria, mas que salvo melhor juízo, ninguém sabe onde e nem quando ela foi proferida. Tanto é que a mesma foi retirada das páginas da internet. Que falta não faz um secretário como Dirceu Borboleta!

Olinda, 22 de março de 2025.
Sem ódio e sem medo.
Hely Ferreira é cientista político.