Opinião | O poder da ignorância

     Um dos pilares da filosofia socrática é o reconhecimento da ignorância, por isso, a necessidade da busca pelo conhecimento. Para ele, era necessário esvaziar-se das convicções que nos empurra ao flagelo intelectual. Sairmos da redoma do nosso mundo e termos  coragem de buscarmos novas perspectivas. Por outro lado, a temática da ignorância, pode levar o indivíduo a uma falsa alegria, levando-o a construir uma máscara da ilusão, como diria Eric Fromm. Com efeito, existe a ignorância na perspectiva marxiana, em que a pessoa é considerada uma alienada, pois vive alheia a tudo que acontece ao seu redor. Assim, cria para si um modelo de sociedade lastreada em um admirável mundo novo, se tornado um ser feliz por não ter consciência das agruras que lhe cerca, consequentemente não possui capacidade de indignação ao que lhe é imposto de maneira sorrateira. Mas há também  um modelo de ignorância que visa o controle das massas. A mesma se desenvolve por intermédio de uma população que não consegue enxergar que algumas figuras emblemáticas se alimentam da ausência de consciência crítica e assim, vai se perpetuando no poder.
     Libertar-se da ignorância não é apenas um esforço da pessoa, mas se a mesma resiste  ao em menos libertar-se do comportamento dogmático, o desafio é bem maior. Não foi por acaso que Adorno afirmou que não existe nada pior que tentar educar indivíduos que já se sentem educados. Vivemos tempos nebulosos onde como disse Jung, “pensar é difícil, é por isso que a maioria das pessoas prefere julgar.”  

Olinda, 12 de abril de 2024.
Sem ódio e sem medo.
Hely Ferreira é cientista político.