Opinião | O julgamento de um sábio

A predominância da argumentação era algo perceptível nas assembleias realizadas nas praças públicas gregas. Tanto é que os sofistas ganharam destaque como professores de retórica. Despreocupados com temas verdadeiros, aliás, eram relativistas, então verdade era algo inexistente para eles. Justamente em um ambiente inóspito ao que se entende como verdade dos fatos, surge o divisor de águas da história do pensamento filosófico ocidental. De origem ateniense, Sócrates aos poucos vai ganhando notoriedade no berço da democracia. Interrogando seus alunos nas ruas de Atenas, alguns começaram a vê-lo e acreditar que se tratava de mais um sofista. Acontece que o ensino socrático era lago libertário marcado pela ironia e pela maiêutica. Algo bem diferente dos sofistas onde predominava o ensino tecnicista e sem preocupação com os problemas da cidade, elegendo exclusivamente o sucesso.
A inovação pedagógica do ensino socrático, fez dele uma ameaça aos padrões da sociedade vigente. Seus ensinos eram vistos como algo que pervertia os jovens e desrespeitavam os deuses. Depois de julgado e condenado, seus fieis escudeiros propuseram-lhes algumas alternativas para escapar da aplicação da pena capital. Um dos caminhos seria a retratação, fazendo com que seus algozes o vissem rever tudo aquilo que havia ensinado. Convicto do que acreditava, rejeitou a proposta. Outra alternativa era a fuga, sendo também rejeitada, pois entendia que durante seu magistério, orientou os alunos de que deveriam respeitar as leis. Sendo assim, caso fugisse, estaria se comportando de maneira antagônica ao que sempre defendeu.
Infelizmente, muitos não procuram seguir os passos socráticos, preferem abdicar de ideais que durante muito tempo se fizeram presentes em sua vida diária. Optam pelo caminho que julgam ser mais fácil, colocando-os ao lado de figuras e bandeiras que antes as consideravam escabrosas.
Olinda, 17 de abril de 2025.
Sem ódio e sem medo.
Hely Ferreira é cientista político e membro da APEL.
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