Opinião | Entre o legado e a doçura
Os relatos históricos apontam que Platão afirmou ser grato por ter nascido na era socrática. Parafraseando o mestre ateniense, posso afirmar que sou privilegiado por ter crescido no período mais promissor da Música Popular Brasileira. Sou do tempo em que rádios de Frequência Modulada tinham programações diferenciadas. Ainda não haviam sido contaminadas pela indústria cultural. Os chamados grandes nomes da música nacional, faziam parte da programação das emissoras. Escutar Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Jobim, Chico Buarque, Maria Bethânia e Gal Costa era algo corriqueiro. Embora, o regime de exceção procurasse tolher o acesso.
O movimento musical chamado de Tropicalismo, tinha como principais expoentes as figuras de Tom Zé, Rogério Duarte, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Gal Costa. O exílio de Gil e Caetano, praticamente levou o movimento ao ostracismo, mas a presença marcante de Maria da Graça Penna Burgos Costa (Gal Costa), foi a principal voz da resistência em defesa do Tropicalismo. É bem verdade que com uma voz doce e marcante, Gal foi demonstrando ao longo dos anos sua versatilidade como intérprete. Por meio dela, canções de Moraes Moreira, Chico Buarque, Djavan e tantos outros, ganharam fama e uma maneira ímpar na interpretação. Seu brilhantismo nos palcos, se proliferou pelo mundo. Não por acaso, Gracinha (maneira carinhosa em que era chamada pela família), tornou-se a cantora brasileira que mais se apresentou nos principais palcos internacionais.
O falecimento de Gal Costa deixa a Música Popular Brasileira órfã.
P.S. Lamentavelmente, também faleceram os artistas Bebeto Alves e Rolando Boldrin.
Olinda, 12 de novembro de 2022.
Sem ódio e sem medo.
Hely Ferreira é cientista político e músico.