Opinião | Decadência Argumentativa
Em seu nascedouro a democracia ateniense, valorizava a capacidade argumentativa. Fruto da relevância do discurso é que os sofistas Protágoras, Trasímaco, Hípias, Pródico, Górgias e outros, se destacaram na preparação dos cidadãos para os debates nas assembleias realizadas na Ágora. Mas com o passar do tempo, os mestres da oratória sofreram ferrenhas críticas, principalmente por conta do relativismo e remuneração educacional. Pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles, se encarregaram em construir uma imagem bastante nefasta dos sofistas. Tanto é, que até em nossos dias, quando se quer dizer que alguém vive faltando com a verdade, diz-se que ela está sofismando.
Por quase todo o século passado, as campanhas eleitorais eram feitas na praça pública e os saudosos comícios eram onde o eleitor tinha oportunidade de ouvir o pronunciamento e consequentemente, as propostas dos candidatos. Lamentavelmente, o discurso político atrelado ao declínio da credibilidade, aos poucos foi sendo substituído pelo showmício, onde estrategicamente os candidatos encurtaram suas falas e o tempo maior passou a ser das atrações. Caminho encontrado para motivar o eleitor sair de sua residência para ouvir as “propostas”. Com o advento da Lei 11.300/2006, as atrações artísticas foram banidas das campanhas eleitorais.
Algumas atividades desenvolvidas, requer uma boa capacidade de persuasão. Quem resolve enveredar pela vida pública, deve saber que sempre será cobrado para que expresse suas ideias em público. Sendo assim, chega ser esdrúxulo um parlamentar não ter prazer em discursar no ambiente legislativo. Com efeito, o discurso é uma das marcas da atuação parlamentar. Lamentavelmente, é perceptível a falta de grandes oradores no mundo da política nacional. O estigma atual, com raras exceções, tem sido falsas narrativas recheadas de aforismo, acompanhado de um empobrecimento de temas relevantes.
Olinda, 19 de maio de 2023.
Sem ódio e sem medo.
Hely Ferreira é cientista político.