Opinião | As pesquisas guiando a incerteza
Por Antonio Lavareda
"E os partidos, senhor Honório, onde estão os partidos?" A pergunta de Pedro 2º ao depois Marquês do Paraná, insatisfeito com a pouca penetração dos partidos às vésperas do Gabinete da Conciliação, poderia ser repetida hoje, ajudando a entender o porquê de chegarmos a São Paulo e outras cidades com mudanças decisivas no sprint final.
Partidos reais, enraizados na sociedade, servem como influenciadores políticos por excelência. Organizam, filtram as informações para os seus seguidores, dão inteligibilidade às campanhas. Resolvem as dissonâncias cognitivas e emotivas despertadas por percepções incongruentes do ambiente político. E reduzem a necessidade das pessoas comuns de avaliarem cada questão ou cada candidato.
Funcionam como âncoras que conferem certa estabilidade ao comportamento eleitoral. É assim que atuam nos EUA e na Europa, mesmo nessa era de deslegitimação das instituições representativas. Se é verdade que o populismo radical tem avançado por lá, também é fato que sua contenção só ocorre por conta de partidos que gozam da preferência de largas parcelas da sociedade.
Aqui, na ausência deles, o eleitor flutua na dependência dos sinais das grandes lideranças com que se identificam. E, para encontrar qualquer lógica nas campanhas, resta-lhe recorrer às pesquisas. Em todo lugar elas são relevantes, porém entre nós seu papel vai além. São usadas como uma espécie de corrimão que ajuda a tatear através da névoa espessa, onde a informação se entrelaça com a desinformação, em busca de um rumo que possibilite ao votante expressar com alguma fidedignidade seus sentimentos nas urnas. Por isso seus efeitos são magnificados. Óbvio que sendo muitas elas também, não raro, se contradizem. Contudo, marcas com mais estrada se sobressaem, e os agregadores auxiliam nas sínteses que fazem.
Os resultados anunciados às vésperas ganham um peso especial. Ajudam a selecionar, para um contingente de eleitores estratégicos, quem poderá barrar o "mal maior" no segundo turno, conforme a perspectiva de cada um. Os movimentos têm consequências duplicadas. Três pontos transferidos abrirão diferença de seis entre candidatos até há pouco empatados.
Os menos envolvidos e mais sensíveis ao efeito "bandwagon" terão intuído quem tinha maior chance de vitória e podem aumentá-la pelo efeito manada, desistindo de opções com fraca preferência. A força dos números finais, da mesma forma, pode influenciar o absenteísmo dos que forem desestimulados por perceberem seu candidato de antemão derrotado. Todos esses fatores colaboraram para os resultados que conheceremos na noite deste domingo (6). E explicam porque frequentemente as urnas discrepam das pesquisas.
Disputas acirradas são afetadas até pelos votos nulos decorrentes do desconhecimento do número do candidato e erros de digitação. Quanto à hipótese de um "voto envergonhado", invisível, não parece plausível. Aventada por um único instituto em 2022, não foi comprovada.
*Cientista político, é presidente de honra da Abrapel (Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais)