No ‘Entre Agendas’, o novo Arcebispo de Recife e Olinda fala sobre política e até assuntos polêmicos ligados à Santa Sé
Nascido na Paraíba, Dom Paulo foi nomeado pelo Papa Francisco Bispo da Diocese de Garanhuns, no dia 20 de maio de 2015. Ainda durante o bispado, foi membro da Comissão Episcopal Bíblico-Catequética da CNBB, entre os anos de 2015 e 2019. Também em 2019, foi eleito presidente do Regional Nordeste 2 da CNBB, e atualmente é arcebispo das cidades de Recife e Olinda. Ele concedeu entrevista exclusiva ao *jornalista Elielson Lima. *
Questionado sobre o que mudou em sua rotina, desde que assumiu a igreja de Recife e Olinda. Dom Paulo ressalta quais os desafios: ”É, a diocese de Garanhuns tem quase 700 mil habitantes, é a população de Jaboatão, praticamente. Então, obviamente, os desafios são imensamente maiores, nós temos quase quatro milhões de habitantes em 19 municípios aqui no Continente e em Fernando de Noronha. Depois temos as complexidades das grandes cidades e todos os desafios sociais como empobrecimento, violência, o grande desafio da juventude, desigualdade social… e desafios específicos do campo da fé e da evangelização, como a secularização, a perda da fé, a perda do senso de Deus entre outros. Por outro lado, encontrei comunidades muito bonitas, paróquias riquíssimas e belas com história pastoral e de evangelização muito bonita. Vou concluir o ano de 2023 tendo visitado um terço das paróquias”.
Perguntado sobre a CNBB, o mesmo ressalta, com suas palavras, que o protagonismo da Instituição é ajudar o povo brasileiro no grande processo de reconciliação e pacificação; o arcebispo cita sobre as fraturas na sociedade e como as eleições do ano passado afetaram e culminaram para esta ‘fratura’ que afetou amizades e relações entre as pessoas.
Sobre campanhas eleitorais, ao ser perguntado sobre seu pensamento em relação aos católicos e cristão serem candidatos, o arcebispo responde de forma clara que é extremamente benéfico.
“elogiável, a Igreja Católica precisa reconquistar seu protagonismo no meio da política, no mundo da economia. Por causa do evangelho, por causa da doutrina social da Igreja, formados por uma consciência cristã, evangélica, de fato, entrar no mundo da política para modificar. Não adianta apenas criticar, dizer que nada presta e que está tudo bagunçado; é preciso que os leigos e leigas assumam o protagonismo do mundo da política partidária. Papel fundamental ser presença pacificadora nesses ambientes”
O censo e a perda de fiéis católicos ou que se diziam católicos, no país
“Sobre os dados do censo sobre o item religião ainda é muito elementar, não temos os dados completos, temos vários outros dados de outros elementos como população, da economia entre outros. Mas, os dados relativos à religião, estes ainda não estão computados plenamente e divulgados, então, vamos esperar e ver o que está acontecendo. Parece que houve um refluxo, nessa perda de fiéis, então houve um período em que esse ritmo foi bastante acelerado e percebemos que há uma crise, não somente na Instituição Igreja Católica, mas em todas as igrejas mais institucionalizadas”.
O arcebispo ainda menciona que, o segundo elemento é referente a um surto migratório, “dentro das próprias igrejas evangélicas, em que há cristãos que migram de uma denominação para outra e que no final, acabam se tornando agnósticos e vão perdendo o interesse e a fé” pontua.
Bênção para casais homoafetivos
Ao ser indagado sobre a fala do Papa Francisco, em que sugere bênção para casais homoafetivos, Dom Paulo acentua: “Eu não vi precisamente a fala, não sei em que contexto, nem o que de fato ele disse mas, eu me lembro muito de Dom Henrique Soares, brincava assim, ele contava: ‘um dia desses, vinha um casal que não é casado na igreja, me pedir uma benção, então disse, dou, se ajoelhem, João eu te abençoo em nome do espírito santo, maria eu te abençoo em nome do espírito santo’…
Dom Paulo continua :"O casal homoafetivo pode receber benção? Pode! É um casamento? Não! O casal enquanto casal, enquanto par, pode receber a bênção? Eu não sei o que o Papa disse, nem em que contexto disse, por isso, prefiro não opinar. Contudo, tenho certeza absoluta que o Papa nunca elevou essa união a categoria de sacramento. Eventualmente pode haver uma bênção, para um casal que busca Deus, mesmo vivendo em uma situação de irregularidade… O Papa está nos indicando algo nesse sentido, vamos esperar o que ele tem a nos dizer”, finaliza.
O que esperar do Episcopado
“Eu espero trabalhar muito em conjunto com os Sacerdotes, dar uma identidade cada vez mais profunda ao clero da arquidiocese de Olinda e Recife. Nós temos um clero que nos últimos tempos recebeu padres da vida religiosa de outras dioceses, outros lugares, e é um novo clero com necessidade de uma identidade mais profunda. Segundo, eu desejo colaborar no processo de evangelização, a partir dessa lógica dos pequenos, pequenas comunidades, dos ciclos bíblicos, da formação dos cristãos leigos e leigas, formação de novos sacerdotes. E terceiro, pretendo colaborar para que estruturas físicas da arquidiocese estejam em consonância com as necessidades da evangelização, por exemplo, a catedral, a co-catedral, estruturação do Centro Pastoral da Várzea, então, a gente repensar os espaços físicos, mas não por causa dos espaços físicos, estes espaços pensados em função da evangelização, em função da missão fundamental da igreja que é evangelizar” finaliza Dom Paulo Jackson.