Fundo do baú | O icônico debate da Globo de 86

Por Ítalo Rocha *

Um debate na Globo Recife entre os candidatos à sucessão do Governo de Roberto Magalhães marcou a campanha de 1986. A disputa foi polarizada entre Miguel Arraes, 69 anos, PMDB, e Zé Múcio, 38 anos, PFL.

A campanha foi bastante acirrada no aspecto ideológico. Os ataques a Arraes ficaram a cargo do deputado federal Ricardo Fiúza, PFL. Arraes é comunista, quer tomar o que é seu e prega a luta armada - eram as flechadas mais civilizadas disparadas por Fiúza.

A devolução coube ao deputado estadual Marcus Cunha, PMDB. Zé Múcio é usineiro e pensa que é He-Man (personagem de histórias em quadrinho que acredita ter uma força sobre-humana). E assim, entre ataques e contra-ataques, chegou o dia do debate na Globo, tendo como mediador o jornalista Francisco José. Quase no final, uma pergunta feita pela produção da TV deu a sensação de vitória pros arraesistas e de desânimo para a militância de Zé Múcio. A pergunta era pra saber o que, caso fosse eleito, cada um deles iria fazer com os canavieiros que estavam acampados há dias na Praça da República, na frente do Palácio do Governo, com uma pauta de reivindicações.

Pelo sorteio, Zé Múcio respondeu primeiro e disse que iria à praça abrir um canal de negociação com os camponeses e pedir que eles desocupassem o local. Para quem era chamado na campanha de usineiro, a resposta foi tecnicamente perfeita porque imprimiu ao candidato do PFL uma performance de conciliador, o que até hoje perdura em Zé Múcio. Mas,
Arraes, identificado historicamente com a luta dos canavieiras, tinha também uma matreirice política invejável. E foi contundente na resposta: caso eu seja eleito, não entrarei nem sequer no Palácio se eles continuarem acampados na frente e só negociarei se eles 
desocuparem a praça antes da minha posse!
Arraes ganhou a eleição e os camponeses deixaram a praça bem antes de ele entrar no Palácio do Governo para sentar pela segunda vez na cadeira de governador de Pernambuco!!!

Ítalo Rocha, Jornalista *