Carregando
Recife Ao Vivo

CBN Recife

00:00
00:00
Eleições

É preciso debater sobre os debates


Por: REDAÇÃO Portal

17/09/2024
    Compartilhe:

 

Escrevendo pela terceira vez nessas eleições sobre o assunto, dado os estranhos cenários que não param de surgir no Brasil, em especial em São Paulo.

Os debates eleitorais, em sua essência, deveriam ser momentos valiosos para o confronto de ideias, onde projetos de governo são analisados e comparados, permitindo ao eleitor tomar uma decisão informada. Contudo, o que temos visto em São Paulo é uma distorção perigosa desse objetivo. O arremesso de uma cadeira por um dos candidatos, em um gesto de agressão física, sintetiza o nível de tensão e animosidade que tem permeado esses encontros.

A reação imediata à violência foi a decisão de parafusar as cadeiras ao chão para os próximos debates, uma tentativa de controlar algo que vai muito além do mobiliário. O problema não está nas cadeiras, mas na atmosfera de hostilidade que tem marcado essas discussões. E essa agressividade não surge do nada — ela é frequentemente alimentada pela maneira como as pesquisas eleitorais posicionam os candidatos.

Aqueles que estão à frente nas pesquisas se tornam alvos preferenciais de ataques, muitas vezes pejorativos e baseados em insinuações criminosas. Em vez de utilizarmos essas informações para enriquecer o debate, o que vemos é uma espécie de "municiamento" de narrativas destrutivas contra o líder. A estratégia é clara: ao invés de discutir ideias, busca-se minar a imagem pública dos que aparentam liderar a corrida eleitoral.

Em São Paulo, o episódio da cadeirada é apenas o símbolo mais visível desse processo. Mas o que realmente está em jogo é a degradação do espaço democrático dos debates, que, ao invés de servir para esclarecer o eleitor, tem sido transformado em uma rinha onde a dignidade política é sacrificada em nome de ataques pessoais.

Aqui em Pernambuco, estamos diante de dois cenários que reforçam essa tendência preocupante. No Recife, há uma ausência gritante de debates, com apenas dois previstos para a última semana do primeiro turno. A falta de debates priva o eleitor da oportunidade de ver os candidatos em confronto direto, discutindo soluções para os problemas da cidade. Essa lacuna cria um vácuo no processo eleitoral, dificultando a formação de uma opinião mais informada sobre quem está realmente preparado para governar.

No interior do estado, a situação é ainda mais delicada. Candidatos que lideram as pesquisas têm sido alvo de agressões verbais e de distorções de fatos locais. Essa escalada de violência verbal e ataques pessoais já está sendo alvo de controle do judiciário, mas reflete o mesmo problema que vemos em São Paulo: uma tentativa de desqualificar quem está à frente, ao invés de elevar o nível do debate.

Esses exemplos mostram que, embora os debates sejam instrumentos imprescindíveis para a democracia, o uso que está sendo feito deles em muitos casos está apequenando sua importância. Ao invés de controlarmos o foco das discussões, permitindo que as ideias fluam e que o eleitor conheça melhor as propostas, o que temos visto é a criação de um palco circense, onde os candidatos são transformados em personagens e o público, em plateia de um espetáculo deprimente.

O que realmente precisamos é de uma reformulação desses espaços, para que os debates voltem a cumprir seu papel de promover o diálogo e a troca de ideias. Só assim poderemos resgatar sua importância e garantir que eles sirvam aos interesses dos eleitores, e não às narrativas destrutivas que, no fim das contas, apenas prejudicam o processo democrático.

*Delmiro Campos* é advogado eleitoral, especialista em disputas majoritárias.

Notícias Relacionadas

Comente com o Facebook