Coluna da quarta | Lula e seu real poder de transferência de votos em Pernambuco
Ao longo do tempo, foi criada uma mística em torno da figura do ex-presidente Lula e um poder quase que sobrenatural de resolver as eleições pernambucanas. No primeiro turno do pleito deste ano, ele saiu gigante das urnas, com 65,27% dos votos válidos - mais que o dobro em relação a Bolsonaro. Porém, seu candidato oficial, Danilo Cabral (PSB), amargou o quarto lugar, com míseros 18,06%. Ou seja, o petista não transferiu nem um terço. O eleitorado lulista ficou pulverizado em todos os palanques, exceto no de Anderson Ferreira (PL), por assumir Bolsonaro.
Fazendo um breve retrospecto dos apadrinhamentos de Lula nas campanhas para o Governo de Pernambuco, começaremos por Humberto Costa, em 2006. O Governo Lula vivia um dos seus melhores momentos, um ex-ministro da Saúde bem avaliado, tinha tudo para bater de frente com o então governador Mendonça Filho. Lendo o jogo, na reta final, Lula fez aquele tradicional comício que juntou Humberto – o candidato do PT – e Eduardo Campos, e pediu votos para os dois. O resto da história você já sabe. Quatro anos depois, Campos era reeleito com as próprias pernas.
Em 2014, numa aliança com o PTB, inclusive indicando o senador, o ex-presidente Lula fez campanha e pediu votos para o então senador Armando Monteiro Neto. Chegou a dizer que “se votasse em Pernambuco, votaria no Armando”, num histórico comício em Brasília Teimosa. Ainda fez agenda em Caruaru e Petrolina. A campanha de Armando foi ao delírio naquele momento, pensando que a eleição estava resolvida com a fala de Lula. Mesmo tendo aquela fatalidade com o avião de Eduardo como justificativa para a derrota, o candidato de Lula perdeu. Uns dizem que Armando já iria perder mesmo, pela força do Governo Eduardo justamente na sua sucessão.
Quatro anos depois, Paulo é reeleito numa composição com o PT, não apenas pelo peso de Lula, que na ocasião estava preso, mas por uma jogada política local que rifou Marília Arraes da disputa. O fator ali também contou com a previsibilidade de Armando. Se naquele momento Marília fosse candidata pelo PT, a história poderia ter sido outra, pela força do seu sobrenome e a vinculação com Lula.
Voltamos a 22, agora no segundo turno, a candidata exclusiva de Lula é Marília Arraes, que aposta todas as suas fichas nesse apoio. Mas as pesquisas vêm apontando que o apoio do ex-presidente no primeiro momento fez ela crescer um pouco, mas não a ponto de ultrapassar a adversária Raquel Lyra. É indiscutível que Pernambuco é um estado lulista, entretanto ele não consegue transferir o que tem, o eleitor é dele e ponto. É aquele prefeito de interior que ganha todas as eleições que disputa, mas não consegue fazer o sucessor.
DOIS PALANQUES – Uns podem acreditar que Teresa Leitão se elegeu apenas pela força de Lula. Eu digo: também foi isso, talvez o mais importante, mas não apenas. Estava claro que Pernambuco iria eleger um senador ou senadora de esquerda. A conta feita no primeiro momento por Paulo Câmara e até pela própria Marília, que foi ventilada a ser a senadora de Danilo, estava certa. Teresa estourou pela vinculação a Lula, mas também por ter tido dois palanques. Ele teve toda estrutura ao lado de Danilo e a identificação com o eleitor de Marília. A prova disso foi a votação de André de Paula. Teresa foi a candidata coringa!
SURPREENDEU – A candidata Marília Arraes (SD) vem surpreendendo muitos do meio político por sua postura nos debates contra Raquel. A memória que muitos tinham dela era os enfretamentos com João Campos na eleição passada, no Recife. Ela está mais madura, mais incisiva e usa muito da ironia para tentar desestabilizar sua oponente. Estratégia acertada! O que também causou surpresa foi seu domínio em temas difíceis. Mostrou que fez o dever de casa, de parar para estudar o estado. Quem esperava um debate solo de Raquel viu um enfretamento de alto nível.
RÁPIDAS
BATENDO PESADO – O deputado federal Wolney Queiroz (PDT), de Caruaru, que é líder da oposição ao Governo Bolsonaro na Câmara, publicou um vídeo em suas redes sociais para bater de frente com a candidata Raquel Lyra (PSB). Ele foi duro dizendo que a tucana “mente”, falando sobre as creches que a ex-prefeita não fez. O adversário foi a público para assumir a paternidade da maternidade. Aliado de Marília, Wolney engrossou o caldo deste segundo turno.
FORA DO PALANQUE – O prefeito Manuel Botafogo (sem partido) está preparando um grande evento para receber a candidata ao Governo de Pernambuco, Raquel Lyra, hoje, em Carpina. À coluna, ele revelou que os ex-prefeitos Joaquim Lapa e Carlinhos do Moinho não subirão em seu palanque.
COLETIVA – A candidata, depois do ato com Botafogo, seguirá para o escritório de Joaquim Lapa para conceder uma coletiva à imprensa local. O ex-prefeito também disse que não subirá no mesmo palanque que Botafogo. O clima municipal não pode ser desconsiderado neste momento, mas a verdade é que Raquel conseguiu o apoio das principais forças da cidade.
PINGA-FOGO: As pesquisas terão o poder de mexer no voto do pernambucano às vésperas da eleição?