São João 2020: Um misto de saudade e reinvenção na maneira de festejar
Pela primeira vez, Pernambuco celebra a tradicional festa junina, sem fogueiras, quadrilhas e forró na ruas
Por: Antonio Diniz e Julianne Marinho
A chegada do mês de junho provoca uma sensação especial para boa parte dos nordestinos, com as expectativas para as festas tradicionais de São João (24) e de São Pedro (29). A contagem regressiva para esses dias marcam o calendário da população, que espera com ansiedade as comemorações, repletas de significados regionais, culturais e econômicos. No entanto, o ano de 2020 trouxe uma surpresa um tanto quanto desagradável: o início do mês junino chegou carregado de apreensão, medo, dúvida e incerteza. A expansão do novo coronavírus, e a consequente pandemia, cancelou, pela primeira vez, a comemoração tradicional, trazendo impactos e danos irreparáveis para toda cadeia produtiva que faz a festa acontecer. Em Pernambuco a Covid-19 já contaminou mais de 52 mil pessoas, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde, e tirou a vida de 4.252 pessoas. Os números e os casos crescentes no interior do estado obrigaram o estado e municípios a cancelarem os festejos na região, e a proibir a presença dos elementos que constituem a celebração.
Um dos símbolos mais representativos e marcantes na memória das pessoas, que esperam o São João, por exemplo, são as fogueiras, presentes em frente aos condomínios, ruas, casas e sítios das cidades. Neste ano, elas não poderão ser acesas, por emitirem fumaças, que podem agravar os sintomas daqueles que testaram positivo para doença. Mas o elemento fará falta na data dos santos juninos, não apenas por deixar uma lacuna dos que a acendem por crenças, ou apenas para assar o tradicional milho, e sim porque faz parte de uma tradição cultural-histórica milenar. De acordo com a historiadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Cibele Barbosa, as origens da festa podem ser observadas nos tempos anteriores ao Cristianismo, quando a ideia de cultos com a fogueira já era muito comum na antiguidade, entre os povos do Oriente Próximo, os gregos, os celtas e os egípcios. “Normalmente, populações rurais, espalhadas no Oriente Próximo e na Europa, celebravam esses cultos para garantir a fertilidade, tanto dos solos, como das mulheres”, contextualiza Cibele. Ela pontua que a tradição possui raízes às manifestações pagãs, mas, posteriormente o catolicismo assumiu esses ritos. “Quando o Império Romano se cristianizou, no século IV d.C., a igreja a católica se adaptou aos cultos populares das comunidades rurais, que já existiam por todo Império Romano. Uma forma de ter uma aderência com essas populações era coincidir o calendário, incorporar esses cultos a um modelo de divindade cristã. Então, de alguma forma, os festejos aos santos se adaptaram aos deuses pagãos”, ressalta a historiadora.
No Brasil, a celebração das festas juninas começam a partir do dia 13 de junho para homenagear o santo casamenteiro, Santo Antônio, 24 para o São João e 29 para comemorar o dia de São Pedro. As datas possuem uma relação com os dias que marcavam o solstício de verão. “O nascimento de São João Batista antecede seis meses ao nascimento de Cristo, o Natal, também é uma data que se adapta a cultos pagãos no Império Romano. Os dias 22, 23 e 24 eram datas que marcavam o solstício de verão, principalmente o 24. A igreja católica estabelece essa data, como a comemoração do nascimento de São João Batista. No século XIII, na Europa, os festejos passam a incluir Santo Antônio e São Pedro”, comenta a historiadora.
Um fato curioso pode ser atribuído aos índios que, antes mesmo da colonização dos portugueses, já tinham o costume de realizar ritos, utilizando da fogueira para agradecer a boa colheita. “No Brasil a festa coincide com alguns festejos dos próprios povos indígenas, que também usavam fogueiras, não necessariamente no dia 24 de junho, mas a comemoração, era em torno de uma fogueira, para celebrar a agricultura”, descreve Cibele.
Além da tradição da fogueira, que celebra a data católica, e a colheita do milho, dos agricultores, outro elemento basilar dos festejos juninos, não estará presente na festa deste ano: a quadrilha junina. No Nordeste, as quadrilhas se apresentam nas ruas e quadras das cidades e são conhecidas pelo capricho em seus passos, preparação de sua narração, figurinos, maquiagens e adereços. Os detalhes também nos remetem aos tempos passados. Eles têm origem e inspiração nas contradanças francesas, a partir da chegada dos portugueses no Brasil. “Com a chegada da Corte em 1808 e mais ou menos 15 mil integrantes da nobreza portuguesa chegaram ao Rio de Janeiro e trouxeram suas festas, que aconteciam na Europa. Na França, era muito comum as danças semelhantes a nossas quadrilhas, onde haviam os pares de homens e mulheres. Essa festa foi perdendo sua importância em algumas regiões, mas se manteve em regiões mais rurais. A questão do forró tem várias explicações, uma delas é que o nome vem do for all, das festas do século XIX, trazidas pelas companhias inglesas das ferrovias, que cruzavam os sertões, o interior do Nordeste e outros de São Paulo e Minas Gerais”, detalha a historiadora. Hoje, as quadrilhas juninas encantam por misturar as músicas de forró, coreografia e encenação durante as apresentações e vão deixar saudade no coração dos dançarinos.
Inúmeros grupos pernambucanos costumam se planejar com um ano de antecedência para que, até o dia do espetáculo, tudo esteja perfeitamente alinhado. A competitividade, a dedicação e o empenho são características que definem quase todos os grupos, que levam a sério a importância da manifestação artística não só para o São João, mas para a cultura regional. Em março de 2020, quando a pandemia foi decretada e o isolamento social foi estabelecido como uma das medidas essenciais de enfrentamento, muitos times já estavam avançados na organização para a apresentação que aconteceria neste mês de junho, visto que faltavam menos de três meses para o grande dia chegar. Todavia, diante do ocorrido, todo planejamento ficou para trás, trazendo prejuízos financeiros, emocionais e sociais.
O grupo Junina Tradição, fundado em fevereiro de 2004, nunca enfrentou uma situação parecida como essa ao longo dos seus 16 anos de história. Os ensaios para a apresentação de 2020 tinham começado em janeiro, depois de um longo planejamento, realizado no segundo semestre de 2019. Para Elon Santana, um dos gestores do grupo, lidar com a frustração de não celebrar o São João da maneira tradicional está sendo difícil, um mix de sentimentos representados pela tristeza e angústia diante das mudanças drásticas, mas que está sendo superado pelas novas possibilidades. “Tivemos que nos reinventar, tivemos que nos replanejar para que, cada um das suas casas, continuássemos mantendo a chama acesa e a vontade de fazer a coisa acontecer. Estamos trabalhando de forma online, como a maioria das grandes empresas. Aconteceram ensaios virtuais, onde componentes montaram coreografia e mandaram pra gente, fizemos um lindo vídeo e uma estreia nas redes sociais. Tudo está acontecendo de uma forma diferente, mas com um gostinho de estar junto, como se a gente tivesse lado a lado de forma presencial, é assim que está sendo o ano atípico da junina tradição”, relata Elon.
De acordo com o diretor do grupo, a situação não deixa de impactar financeiramente o time, já que é feito um investimento significativo para que o espetáculo aconteça da melhor forma possível, que ultrapassa os envolvidos e gera um ciclo de profissionais beneficiados. “Os grandes grupos, como eles são muito competitivos, participam dos festivais dentro e fora de Pernambuco, representando o estado. São investimentos absurdos. Por exemplo, no ano passado, a Junina Tradição investiu quase 200 mil reais no espetáculo. Nisso, abrangendo vários profissionais de vários segmentos e vários setores. Então, desde a costureira para confeccionar os figurinos ao eletricista para ligar toda parte de iluminação que a gente utiliza no cenário dos espetáculos. Quando soma tudo, gera uma gama de profissionais”, afirma Santana.
Para a quadrilha Raio de Sol, que se apresenta há 25 anos, a alternativa está sendo se alimentar da memória e das boas lembranças que o grupo construiu ao longo da jornada, visto que o que costuma ser feito encontra-se inviabilizado no momento. Segundo Leila Nascimento, umas das diretoras do time, está sendo lançado um vídeo semanal para alimentar a recordação de todos que compõem a Raio de Sol, além da realização de lives para manter a relação entre todos os participantes, já que, de acordo com ela, o maior impacto enfrentado pelo grupo é o afetivo. “A quadrilha é um lugar onde a gente tem as nossas amizades, onde a gente se realiza, faz o que gosta de fazer, meio que se desliga um pouco desse outro mundo. Ali, na quadrilha, acredito que cada um pode ser quem é, ter essa liberdade, um espaço de encontro, de festa e de alegria. Então, eu acho que esse é o principal impacto. Financeiramente, eu acho que o impacto é maior para quem tem uma renda ligada ao ciclo junino, ou seja, quem costura nossos figurinos, quem faz nossos sapatos, nossos arranjos, porque são pessoas que o comércio é diretamente afetado, porque as quadrilhas juninas movimentam essa cadeia produtiva”, explica Leila.
Assim como a Raio de Sol e a Junina Tradição, pausar as atividades não foi uma opção para a quadrilha Dona Matuta, principalmente pelo alcance e aporte social que o grupo possui. A expectativa para o ano de 2020 era grande, pois, em 2019, o time conquistou o primeiro lugar na final estadual do Festival de Quadrilhas Juninas da Globo. Porém, segundo o coordenador da equipe, George Araújo, o desafio encontrado pelo grupo neste ano foi outro: continuar integrando pessoas, criando atividades para os componentes, promovendo encontros e gerando conteúdo para movimentar os participantes em pleno cenário de pandemia e isolamento social. Apesar das dificuldades, a gestão está conseguindo efetuar os planos e desempenhar um belo trabalho. “Criamos uma estratégia de fazer uma apresentação virtual por meio de capítulos, que estão sendo lançados no canal da Dona Matuta no youtube. Esses episódios compõem desde a ideia de como pensar no tema, como foi pensado, como foi desenvolvido, como é que feita a escolha dos casais de noivos, como foi concebida a questão do figurino, a maquiagem, o arranjo. Realmente não tinha a possibilidade da gente considerar uma apresentação física com um volume de gente que temos, são em média 120 pessoas, mas a gente precisava ser assertivo e estratégico para conseguir gerar esse resultado, sem prejudicar e sem deixar de mostrar o trabalho, o brilho e todo envolvimento que as pessoas têm no processo de produção da quadrilha”, ressalta o coordenador.
Da ausência à reinvenção
O fato é que o cenário atual pegou todos os envolvidos de surpresa, exigindo novas possibilidades, caminhos diferentes dos habituais e, sobretudo, criatividade para se sobressair. Segundo o economista da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Luiz Henrique Romani, os impactos causados pelo novo coronavírus não estão ligados apenas aos grandes eventos que acontecem nesse período, como também aos microempreendedores. “Os impactos econômicos estão ligados, não só aos grandes shows, que é a parte mais visível, toda produção e montagem do equipamento, os salários das pessoas envolvidos nesses eventos, isso é apenas a parte mais visível e claro, envolve muitos valores. Mas, a economia do período junino inclui o turismo, as pessoas em direção aos polos de Gravatá, Caruaru e Campina Grande, aluguel de temporadas e ocupações nos hotéis”, destaca o especialista.
A pedagoga, Thaynara Rudner, de 23 anos, todo ano costumava viajar com sua família para a cidade de Caruaru, esse ano sem condições de manter a tradição, ela conta que sente falta desse hábito de anos, mas entende a importância de ficar em casa nesse momento. “É um costume de família, nos festejos juninos, nos reunimos e viajamos para Caruaru. Estamos tristes por não viajar esse ano devido a pandemia da Covid-19, até porque é um momento que esperamos o ano inteiro. Mas é por uma boa causa, precisamos nos cuidar para que tudo isso passe e volte ao normal”, explica a jovem.
Sem a população poder ir para as ruas celebrar o São João, como ficam as cidades que dependem da festa?
O município de Caruaru, no Agreste de Pernambuco recebeu o título de capital do forró em 1980, em alusão à música de Jorge Altinho, que leva o mesmo nome. Caruaru é uma das cidades do estado,que mais recebe turistas e movimenta a população, durante os festejos. Ela ainda é palco de nomes importantes da música nordestina, como Onildo Almeida, Petrúcio Amorim e Azulão, possui polos emblemáticos que marcaram a história das festas juninas, como o Pátio de Eventos Luiz Gonzaga e o Alto do Moura. Para fazer a festa acontecer, cerca de 6.000 pessoas estão envolvidas no arranjo produtivo do São João diretamente, além de envolver 18 mil pessoas da confecção a execução da festa.
Às vésperas da data oficial, o cenário aperta o peito. As ruas da cidade encontram-se vazias, o clima junino não é o mesmo. No entanto, de acordo com o presidente da Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru, Rubens Júnior, apesar dos impactos graves em todos os âmbitos do município, a data não irá passar em branco pelos amantes do forró. “As pessoas conseguem fazer a festa acontecer das suas próprias casas. Acompanhando as lives (são centenas delas), de artistas locais, regionais e nacionais. Infelizmente essas produções acontecem sem apoio do poder público, por uma determinação do Tribunal de Contas de Pernambuco, que recomendou, que não se contratasse shows artísticos de nenhuma espécie, nem nada relacionado a esse tipo de atividade artística, em decorrência da pandemia, mas os artistas por si só já estão resolvendo essa questão”, afirma Rubens.
Ainda segundo o presidente, para amenizar os efeitos da pandemia nas classes afetadas, Caruaru está contando com a plataforma http://www.saojoaocaruarusolidario.com.br/, que tem como objetivo arrecadar fundos para doação de cestas básicas ao setor produtivo do São João, afetado diretamente com a impossibilidade da realização da celebração tradicional. Através da plataforma, as pessoas podem fazer doações de cestas básicas, de kits de limpeza ou até mesmo o valor em dinheiro através do QR Code. Rubens aponta que a iniciativa está tendo uma boa adesão, principalmente por grandes empresas. “Há uma malha de solidariedade muito forte. É realmente uma ação muito bonita, que tem tido uma repercussão bastante positiva”, completa Junior.
Em Gravatá, cidade que também faz parte do Agreste pernambucano, a festa chega a movimentar cerca de R$ 100 milhões, a partir da ocupação do setor hoteleiro e dos shows realizados durante o evento, segundo dados da prefeitura. Neste ano a opção para celebrar a data, será realizar um São João Itinerante, com apresentações de forró pé de serra pelas ruas, tendo como objetivo levar animação e alegria para a casa das pessoas. A prefeitura também tem incentivado e divulgado as lives dos artistas da cidade.
Já em Petrolina, Sertão de Pernambuco, no dia 23 de março, o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho publicou em suas redes sociais o adiamento por tempo indeterminado da comemoração junina. De acordo o prefeito, outras festas que estavam programadas para acontecerem durante o primeiro semestre também foram canceladas e os investimentos repassados para o combate do novo coronavírus. As lives e a comemoração das famílias dentro de casa serão as responsáveis por dar o tom da festa.
Sem a festa como ficam os artistas, produtores e empreededores que dependem dos festejos juninos?
Uma das classes mais afetadas pela crise foi a artística. Nesta época do ano, os cantores de forró, dos locais aos nacionais, costumam fazer cerca de 35 shows durante o mês, que contemplam desde o artista em si à respectiva banda, empresa que cuida da estruturação do evento, empreendedores que vendem lanche no local, à pessoas envolvidas com transporte. Como se reinventar diante de uma pandemia que proíbe aglomerações?
Assim como estratégia dos municípios, os artistas também recorrem às lives se apresentarem e conseguirem lucro com os shows online. O mercado da música precisou se reinventar e essa foi a alternativa. A produção pode ser transmitida pelas redes sociais YouTube ou Instagram. Para o economista da Fundaj, Luiz Henrique Romani, essa possibilidade é uma saída para os artistas que tem um grande número de seguidores. “Esse formato é possível apenas para quem já tem um grande fluxo de pessoas que vão acompanhar essas atrações, já não é uma saída viável para o pequeno artista, aquele artista local que toca em bares, que é contratado para fazer festas nas chácaras ou lugares privados. Para esses, a live não terá possibilidade de retorno econômico, porque o pagamento por unidade de ouvintes é muito pequeno e você tem que ter um número acima de um certo percentual para poder passar a entrar na conta de quem vai receber. Então os eventos online podem ser um boa saída de diversão para as pessoas que não estão podendo ir para as festas, mas não é uma saída econômica para todos os artistas”, relata o economista.
Ao longo dos 30 anos de carreira, o cantor de forró, Geraldinho Lins, nunca deixou de fazer parte das comemorações de São João. Para ele, o mês de junho sempre foi muito esperado para desfrutar do sereno da época junina, além de expandir a agenda de trabalho, que envolve cerca de 25 pessoas da equipe. E neste ano, são as redes sociais que o possibilita manter-se no mercado, dialogar com o público, e arrecadar fundos e alimentos para pessoas carentes. “A gente tá se reinventando nesse novo momento, tentando monetizar, captando recursos, trazendo parceiros que queiram alinhar sua marca com a marca da gente numa live, isso potencializa o mercado dele e o nosso. Temos usado hoje 100% de mídia digital. Tem sido a única e mais eficaz forma da gente chegar no público e tem dado resultado. Tenho conseguido, com as minhas lives, uma forma de continuar dentro dessa festa junina e também depois dela, pois não vivemos de forró só no São João, vivemos de forró o ano todo”, aponta Geraldinho.
O cantor Caiã Cordel define que o impacto da data comemorativa irá ultrapassar os limites e impactará financeiramente à carreira de alguns artistas, já que o lucro arrecadado com as festas juninas, muitas vezes, é responsável pelo sustento de um ano inteiro. De acordo com ele, a opção de fazer lives é ótima, apesar de única, mas requer um custo alto, muitas vezes sem retorno posterior. “As lives são bem legais de fazer, porque você está ali diretamente com o público, mas são concorridas. É uma batalha, tem um custo alto para ser feito, sem o recurso do contratante para fazer, a gente tem que fazer como pode fazer, fechando parceria. É desafiador a gente continuar fazendo São João de casa, mas precisamos continuar porque isso leva alegria para o povo”, afirma Cordel.
São João fora de época
E é diante da dificuldade que alguns artistas encontram, mesmo com a opção do ambiente digital, que surge uma nova discussão entre os cantores e produtores: o São João fora de época. A pauta tem dividido opiniões. Enquanto alguns enxergam a celebração no final do segundo semestre como uma alternativa excepcional, outros acreditam que não tem jeito: para viver um São João de verdade, com toda sensação que a época transmite, só no próximo ano, em 2021. Para o coordenador da quadrilha Dona Matuta, George Araújo, não tem como. Ele explica que a festa junina não é uma comemoração apenas com uma estrutura montada, existe toda uma relação de sentimento, de troca e de expectativas criadas como, por exemplo, a partir do ciclo do milho. “Fazer uma festa de São João no mês de outubro, eu acredito que fica deslocado, descolado de um sentimento de coletividade, de sociedade, de fogueira, de clima, de tudo. A gente perde a relação de espaço, de cidade, de festa”, explica George.
Já a cantora Irah Caldeira define que a alternativa é válida para contemplar a cadeia produtiva que está sendo prejudicada atualmente, que vive do período junino, mas, culturalmente, não acrescentaria nada, pois os costumes estão impregnados na alma das pessoas que vivem a data comemorativa. Para o cantor Geraldinho Lins, a possibilidade representa um leque de opções importantes para a retomada econômica. “É importante que tenha o São João fora de época, a gente se adequou a pandemia. Quando ela passar, precisamos fazer festa, vai ser uma coisa muito importante, além da retomada da economia, da manutenção das políticas públicas na saúde, na educação, o entretenimento é importante, porque é cultura, ficarei muito feliz se acontecer”, aponta o artista.
Viva São João e São Pedro!
Mas enquanto a discussão não chega a um consenso e a data já se faz presente, uma coisa é certa: pernambucano nenhum vai deixar de comemorar a tradição do São João e São Pedro. Com festejo adaptado, tradicional ou comemoração fora de época, de dentro de casa, na sala, varanda ou cozinha, é indiscutível que o que une a festividade junina, são os sentimentos de coletividade, de um povo que valoriza a cultura, a arte e as tradições. A fogueira apagada vai dar espaço para as luzes das casas, que estarão acesas ao longo da noite, iluminando a mesa de milho preparada pelas famílias pernambucanas, que mais do que nunca estarão reunidas, celebrando a data.
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