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Projeto Ecolume aposta na integração de água, energia e alimento em escola no Sertão de Pernambuco

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Por: Maria Luna

Iniciativa está instalada no SERTA, em Ibimirim, mas precisa de recursos para ser replicada em outras regiões

28/06/2024
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Iniciativa está instalada no SERTA, em Ibimirim, mas precisa de recursos para ser replicada em outras regiões

Foto: Foto/Divulgação

Superar desafios hídricos, alimentares e energéticos no bioma Caatinga. Esse é o objetivo do projeto Ecolume, implementado na escola de agroecologia Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA, em Ibimirim, no Sertão do estado. 

Com coordenação do Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA, a iniciativa foi desenvolvida por uma rede de pesquisadores, responsáveis por criar o primeiro sistema agrovoltaico do país. 

O que é o Ecolume

Paulo Nobre, climatologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE e um dos idealizadores do Ecolume, conta que os questionamentos feitos para dar vida ao projeto basearam-se em três pontos: as características da caatinga, o estado avançado das mudanças climáticas e como as riquezas naturais da região poderiam ser transformadas em fatores de vantagem. 

Tendo em mente que o Ecolume é uma alternativa de adaptação às mudanças climáticas adequada ao clima semiárido, Paulo explica como o sistema funciona na prática.

“Você usa a energia do sol para gerar energia elétrica que move uma bomba, que circula água que foi capturada da chuva que ocorre ao longo do ano. O nordeste brasileiro é o semiárido mais úmido do planeta, então existe uma quantidade de chuva que se coletada e armazenada, tratada e circulada por esse sistema de hidroponia, consegue produzir energia suficiente para o sistema funcionar, produzir proteína animal na carne do peixe do tanque e ovos em galinhas alimentadas ali com resíduos da própria produção”.


Desde o início do projeto, o maior nível de energia gerado pelo Ecolume no período de um ano foi de aproximadamente 6 mil kWh. Já a média anual fica em torno de 4 kWh, o que, de acordo com Paulo, representa uma economia significativa.

“Isso a um valor unitário de 0,39 centavos por kWh, gera um valor da energia elétrica de R$ 1.600 reais que o proprietário deixa de gastar se usasse essa mesma energia comprada. Então, se nós somarmos o valor da energia, o peixe gerado, que nós estimamos em 190 kg por ano, com um valor de R$ 14,00 reais por quilo, os vegetais, 800 vegetais por ano e 300 ovos, e mudas de umbu, isso geraria hoje, no SERTA, da ordem de R$ 9.000 reais por ano”.

A experiência de trabalhar no Ecolume

Heitor Sabino entrou no projeto como engenheiro de produção bolsista, com foco na parte de energia solar fotovoltaica. Mas, ao longo do trabalho, ele se interessou pelo sistema agrovoltaico e pelos aspectos sociais do Ecolume. Ele destaca a importância da iniciativa no desenvolvimento do semiárido. 

“Hoje em dia eu atuo como colaborador voluntário do projeto, que eu acredito que é um projeto que vale a pena, é um projeto que mostrou ser de uma qualidade social abundante e que precisa ser maior disseminado no semiárido e provavelmente pelo mundo todo também”.
 


O Ecolume como política pública

Após 2020, quando o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPQ, chegou ao fim, o projeto não conseguiu investimentos para que pudesse ser construído em outras regiões do estado. 

Francis Lacerda, climatologista, pesquisadora do IPA e idealizadora do Ecolume, ressalta que a primeira estação do projeto Ecolume segue funcionando normalmente no SERTA. No entanto, a ideia central do projeto, que era virar uma política pública para atender as demandas das emergências climáticas, não andou.

 


“Por mais que eu tenha feito audiências públicas no Senado, aqui na ALEPE tentamos pelo menos uma audiência pública e nem isso conseguimos, e fora, outras tentativas minhas de mostrar o projeto para vários deputados, daqui de Pernambuco e de outros estados”.

E a falta de interesse político é um dos fatores que impedem que o Ecolume possa ser replicado em outras regiões, como aponta Francis Lacerda.

“As condições para a produção vai ficar cada vez pior, a energia vai ficar cada vez mais cara, a água é um insumo altamente caro, vai chegar o tempo que essa tecnologia, se ela não começar aqui pelo  Nordeste, ela vai começar em outro canto. Muitas pessoas vem pra mim e perguntam por que que isso não está sendo replicado, né? Por que a gente não vê outros Ecolumes? E eu falo assim porque não existe vontade política, porque a sociedade quer, o povo quer, mas os políticos parecem que não estão interessados em mudar essa situação”.

Ainda segundo Francis, os pesquisadores chegaram a elaborar uma proposta para montar o Ecolume em uma escola de Petrolina, no Sertão. Mas, por falta de investimentos, a ideia não foi levada adiante. Ela cita os benefícios que a iniciativa traria, caso fosse implementada. 

“O Ecolume poderia servir como um laboratório. Aí você pode ensinar o que você quiser para as crianças, Biologia, Física, Matemática... Fora que vai produzir energia para a escola, vai captar água de chuva, pode reutilizar toda a água dos esgotos para a escola, utilizar também em pomares, né? E também o que produz lá em termos de alimentos para o restaurante das crianças ou dos adolescentes, né?”.

 


Mesmo ainda não tendo ganhado a visibilidade merecida, o Ecolume segue dando frutos na Zona Rural de Ibimirim. Num futuro ideal, a iniciativa poderia ser replicada em outros municípios por gerar de forma sustentável energia limpa, alimentos e até renda para a população. Até lá, é preciso vontade política e interesse do poder público para que o Brasil seja, de fato, considerado sustentável.

Ouça a reportagem especial da repórter Maria Luna no 'Play' acima.
 

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