Pernambuco registra nove casos de intolerância religiosa em 2024, diz SDS
Na primeira semana de julho, mais um caso foi tornado público
Foto: Reprodução/Redes Sociais
De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS-PE), de janeiro a maio de 2024, nove casos foram registrados dentro da classificação de "crimes contra o sentimento religioso e desrespeito aos mortos" em Pernambuco. Ano após ano, o Brasil se destaca pelo aumento de casos de intolerância, especialmente contra as religiões de matriz africana. O Disque 100, serviço do governo federal voltado a receber denúncias do tipo, indicou que, de 2018 a 2023, houve um aumento de 140,3% no número de ligações com o objetivo de denunciar crimes contra a livre manifestação de culto: de 615 para 1.418.
Na primeira semana de julho, mais um caso de intolerância religiosa foi registrado em Pernambuco. Com uma marreta, Thiago Campelo de Melo, de 43 anos, apareceu em vídeos que circulam nas redes sociais quebrando vasos de plantas e um banco de concreto pertencentes ao Terreiro Ilê Axé Oyá Igbalé Funan, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. O local era um espaço de convivência pensado para promover maior interação entre jovens que frequentam o Terreiro e estimulá-los à leitura. O ambiente estava sendo inaugurado no exato momento em que Thiago resolveu destruí-lo.
A ialorixá Elaine Torres, também conhecida como Mãe Laine de Oyá, diz que os ataques ao Terreiro começaram logo assim que Thiago se mudou para a região. O objetivo dele era utilizar o espaço para guardar o seu carro.
"Esse espaço foi estruturado pelo Terreiro. Ele já chegou tirando a tela de proteção, e depois ele começou a estacionar o carro no lugar. O projeto de fazer a área de convivência já existia há mais de um ano! A gente não tinha recurso. Quando a gente adquiriu o recurso, foi essa a danação. Eu inclusive informei a ele, assim que ele chegou, que essa área ia existir", afirma Mãe Laine de Oyá.
A ialorixá acreditava que Thiago até gostaria de utilizar o ambiente, por ter filhos pequenos. No entanto, o convívio com o vizinho sempre se manteve conflituoso, inclusive, com ele relacionando os filhos de santo a criminosos.
Thiago foi encaminhado à Central de Plantões da Capital (Ceplanc), no bairro de Campo Grande, onde o crime foi tipificado como dano, depredação e difamação, e não "racismo religioso", previsto no art. 20 da Lei de Racismo, como defendido pelas advogadas do caso. Com as investigações, já iniciadas pela Polícia Civil de Pernambuco, a tipificação pode ser alterada.
Vítima de intolerância religiosa desde os 14 anos, Mãe Laine de Oyá afirma que, mesmo com mais essa agressão, não tem medo do futuro.
"A gente que escolhe essa religião, escolhe também não sentir medo. Ser do Candomblé é um ato de coragem! Porque eu sofro de discriminação desde os 14 anos de idade. Meus filhos sofrem discriminação desde pequenos quando vão para o colégio. Então, a gente sente o incômodo, não medo, porque eu fui criada para resistir! E eu vou resistir e eu vou lutar até o final", declara.
Reportagem - Lucas Arruda
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