Pedestres não costumam respeitar regras de trânsito em Pernambuco

O funcionamento do trânsito depende de muitos, incluindo entidades públicas e privadas, motoristas, ciclistas e, claro, pedestres, que certamente é o elemento mais vulnerável dentro desse sistema. Não à toa, 40% das vítimas fatais do trânsito do Recife em 2023 foram pedestres. Mas esse número, do relatório preliminar de Segurança Viária da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), não se deve apenas à responsabilidade dos motoristas. Em Pernambuco, princípios básicos de educação no trânsito não são seguidos até mesmo por aqueles que estão a pé. 

Avaliação do Detran-PE: 

O fiscal e instrutor do Departamento de Trânsito de Pernambuco (DETRAN-PE), Eduardo Alves, afirmou que uma das irregularidades mais frequentes é a de não realizar a travessia na faixa: 

“O que vemos nas vias é pedestres atravessando fora da faixa de pedestre, até mesmo quando há uma bem próxima a ele. O próprio Código de Trânsito  Brasileiro diz que quando houver uma faixa de pedestre a menos de 50 metros, o pedestre é obrigado a atravessar sobre a faixa. Inclusive, ele pode ser responsabilizado em caso do acontecimento de um sinistro de trânsito, se for provado que no local do acontecimento havia uma faixa de pedestre a menos de 50 metros”. 

Esse tipo de mau comportamento parece ser frequente pela dificuldade dos pedestres em entender a  importância do seu papel no trânsito. Por isso, a reportagem da CBN Recife foi às ruas perguntar aos próprios pedestres se eles costumam esperar o sinal fechar para poder atravessar. As respostas variaram.  

“Às vezes eu não espero o sinal fechar não. Atravesso quando está aberto mesmo”, disse uma entrevistada. “Eu sempre espero o sinal fechar, mesmo que demore”, disse outra. 

A falta de atenção com o uso de celular 

E existe uma outra problemática de destaque: a distração com o celular. A importância de não usar o celular enquanto dirige é evidente, mas usar o celular enquanto caminha é uma atitude de risco para o próprio bem-estar e à própria vida. Nas ruas, os entrevistados mais jovens confessaram que usam o celular enquanto caminham, em especial para ouvir música. 

O fiscal do Detran Pernambuco, Eduardo Alves, reforçou que o costume de manusear o celular enquanto caminha é, de fato, uma realidade nas ruas do Estado: “Muitas vezes o pedestre está mexendo no celular, andando na própria pista de rolamento, onde é destinado aos veículos. Ou então, mexendo no celular quando vai atravessar a via, e tudo isso são potencializadores para o acontecimento de sinistros de trânsito”.

Inclusive, a psicóloga Natércia Dantas explica que mexer no celular é algo que afeta a percepção do indivíduo com o ambiente ao redor: 

“A atenção é a nossa capacidade de foco em determinadas atividades para realizá-las. E quando existe o uso excessivo do celular, acaba acontecendo uma fragmentação dessa atenção. E no trânsito eu preciso estar atento. Se a minha atenção é prejudicada, eu tenho dificuldade de perceber o ambiente e de agir adequadamente aos estímulos que eu recebo”. 

Confira os números 

O conjunto dessas práticas, como não atravessar na faixa e usar o celular, é o que colabora para a manutenção de números críticos, como os apresentados no último Relatório Anual de Segurança Viária da CTTU, que trouxe os dados do ano de 2022. Segundo o documento, atropelamento foi o segundo tipo de sinistro mais frequente com vítimas feridas em Recife. O registro foi de 187 casos, de janeiro a dezembro de 2022.  

O preliminar de 2023 já mostra a continuidade desse problema. Em Recife, 40% das 144 vítimas fatais do trânsito foram pedestres. Ou seja, cerca de 57 pessoas. 

Na tentativa de romper esse histórico, as ações educativas do Detran Pernambuco enfrentam dificuldades para serem bem recebidas pela população, como explica Eduardo Alves: 

“O Detran Pernambuco tem um trabalho chamado Minutos que Salvam Vidas, para que as pessoas tomem consciência do seu papel no trânsito. Mas você percebe que quando está realizando esse trabalho, muitos não dão atenção e dizem que não têm tempo porque acreditam que é algo sem importância. Então, infelizmente, é um trabalho muito difícil. Mas nós não desistimos, estamos aí tentando disseminar essa mensagem. E se ao final do trabalho nós conseguirmos salvar uma vida, porque tomou consciência e não se envolveu num acidente, isso já é o suficiente, porque uma vida não tem preço”, afirmou. 

A presidente da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), Taciana Ferreira, também destaca que o trabalho do órgão precisa da colaboração dos próprios pedestres: 

“A CTTU  tem feito várias ações voltadas para a segurança viária do pedestre, mas é também importante que a população como um todo se envolva nisso, em especial o pedestre. É necessário cuidado redobrado na hora de fazer a travessia e não usar o celular, porque um ponto de distração pode colocar em risco a sua vida”. 

Todas as recomendações dos especialistas para segurança no trânsito parecem simples, porque realmente são. E são justamente essas pequenas atitudes que colaboram para minimizar o número de casos de atropelamentos ou outros sinistros envolvendo ou não pedestres. Assim, a mensagem principal é de que cada integrante do trânsito, incluindo os pedestres, faça apenas o simples: a sua parte. 

Ouça a matéria da repórter Aline Melo, com sonorização de Lucas Barbosa, no 'Play' acima.