Nordeste lidera casos de violência política no período eleitoral
Levantamento foi realizado pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro entre julho e setembro
Foto: Reprodução
O 19º Boletim do Observatório da Violência Política e Eleitoral (OVPE), realizado pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), mostrou que o terceiro trimestre de 2024 foi o mais violento na política brasileira, levando em conta a série histórica observada desde janeiro de 2019. No total, foram 338 casos entre julho e setembro; desses, 129 (38,2%) aconteceram no Nordeste, com destaque para Bahia, Ceará e Paraíba.
O relatório cobriu o período que compreende importantes datas do calendário eleitoral, como a definição de candidaturas (20 de julho a 5 de agosto) e o início formal das campanhas (16 agosto) - ou seja, casos anteriores ao dia do primeiro turno das eleições municipais, em 6 de outubro.
São cinco os tipos de violência considerados no levantamento: física, psicológica, econômica, sexual e semiótica. No Brasil, a violência física foi a modalidade mais comum, com 179 casos em 25 estados, sendo 88 registros de tentativa de homicídio ou homicídio consumado. Boa parte dessas ocorrências tiveram como vítimas líderes locais em pré-candidatura (38) ou com candidatura registrada (335).
O cientista político e advogado eleitoralista Felipe Ferreira Lima observa que a crescente violência pode estar associada à forma com que se pratica o debate político no ambiente virtual.
"Haja vista as eleições argentinas, marcadas por atos de violência, a última eleição americana, as prévias americanas. A gente tem visto isso nas maiores democracias próximas ao Brasil e também na Europa. Então, essa facilidade de comunicação, a velocidade e a exposição exacerbada faz com que a violência encontre um local propício para se desenvolver", afirma.
Do meio digital para o físico, ainda que a maior parte dos casos tenha se dado no Nordeste, os estados de São Paulo e Rio de Janeiro lideram o ranking, com respectivamente 58 e 47 episódios. A eleição na capital paulista para prefeito ficou especialmente marcada por cenas de violência, como no caso da “cadeirada” dada por José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB), no debate realizado pela TV Cultura.
Em Teresina-PI, outro caso de agressão foi registrado em um debate, dessa vez promovido pela Rede Bandeirantes. O atual prefeito da capital piauiense, Dr. Pessoa (PRD), deu uma "cabeçada" no candidato do PSOL Francinaldo Leão.
Para Felipe Ferreira Lima, um caminho inevitável é a profissionalização das candidaturas.
“O candidato, uma equipe e também um partido que se preze, que vai lançar junto ao candidato suas proposições, sua plataforma de campanha, precisa ter como prioridade um corpo jurídico de qualidade e uma estrutura de segurança, para que o candidato evite prejuízos com possíveis atos de violência”, acredita.
Ainda que no Brasil episódios mais violentos tenham ficado no século XX, é preciso ação para coibir os atos presenciados até hoje. Sem perspectiva de mudança nesse cenário, as próximas campanhas e debates devem continuar sendo pauta das páginas policiais.
Reportagem - Lucas Arruda
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