Mais de 70 crianças e adolescentes foram baleadas em Pernambuco neste ano, segundo relatório do Fogo Cruzado
O número de vítimas da violência é maior do que o registrado no primeiro semestre do ano passado
Foto: Nathalia Williany/via g1
Pernambuco é um dos piores lugares para ser jovem no Brasil. É o que aponta o relatório semestral do Instituto Fogo Cruzado, que analisa o índice de violência no Estado. Ao todo, seis crianças e 72 adolescentes foram baleados na Região Metropolitana do Recife. Desse número, duas crianças e 43 adolescentes morreram, entre elas, a menina Heloysa Gabrielle, de seis anos, que foi morta durante uma ação policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar em Porto de Galinhas, em Ipojuca.
O número de vítimas da violência é maior do que o registrado no primeiro semestre de 2021, quando quatro crianças e 49 adolescentes foram baleados, dos quais 36 adolescentes morreram. Em comparação aos seis primeiros meses do ano passado, houve um aumento de 50% na quantidade de crianças e de 47% dos adolescentes baleados em 2022.
De acordo com Maria Isabel Couto, diretora do Fogo Cruzado, a exposição de crianças e adolescentes a episódios violentos resulta em impactos diretos e, em alguns casos, irreversíveis, que interferem na formação e no futuro dos jovens.
Ainda segundo o relatório do Instituto Fogo Cruzado, somente neste ano, 10 agentes de segurança pública foram baleados na RMR. Dois deles, em operações de trabalho e os demais em períodos de folga. Deste número, seis vieram a óbito. Em relação a 2021, o número apresentou redução, quando foram registrados 13 agentes de segurança vítimas da violência. Segundo Maria Isabel Couto, que é diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado, é responsabilidade garantir e zelar pela vida não só dos profissionais que se arriscam durante o serviço, mas também de toda a população.
Confira a nota oficial da Secretaria de Defesa Social sobre o assunto:
O Governo do Estado, através da Secretaria de Defesa Social, informa que desconhece a base de dados e a metodologia da referida instituição. As estatísticas de segurança pública são divulgadas mensalmente, todo dia 15, e publicadas no site da SDS, para consulta pública. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado esta semana, com dados oficiais de todos os estados, Pernambuco apresentou, em 2021, uma redução na taxa de homicídio por 100 mil habitantes, bem superior à média nacional. Enquanto o Brasil teve uma retração de 6,5% nesse indicador, o Estado registrou uma diminuição de 11%. No ano passado, Pernambuco apresentou as menores taxas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) e Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVPs) de toda sua série histórica de estatísticas criminais. Também vale ressaltar que o Anuário colocou, mais um ano, Pernambuco entre os estados mais transparentes e com melhor qualidade da informação.
Em 2022, o trabalho preventivo e repressivo das polícias Civil, Militar, Científica e Corpo de Bombeiros segue intenso em todo o Estado e operações estão em curso para desarticular grupos criminosos e proporcionar mais tranquilidade para a população. Atualmente, 80% das mortes ocorridas no Estado são decorrentes de quadrilhas envolvidas com o tráfico de drogas.
Por entender a importância de garantir os direitos da juventude pernambucana e a prevenção social, o Governo do Estado atua para fortalecer este grupo com ações executadas por meio de suas secretarias estaduais. A Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, por exemplo, promove a capacitação de jovens em situação de vulnerabilidade com o projeto Casa Virtual, iniciativa que oferta, de forma gratuita e via internet, cursos, oficinas e palestras. Em 2021, 13 mil jovens de 150 municípios nas 12 Regiões de Desenvolvimento do Estado foram contemplados com atividades de qualificação profissional, lazer e cultura.
A Casa Virtual é uma extensão do programa Casa das Juventudes, iniciativa que foi instituída no ano de 2011 e vem sendo executada pelo Governo de Pernambuco por meio de espaços públicos institucionais de referência em parceria com as gestões municipais. O programa têm como público-alvo jovens com idade entre 15 e 29 anos. Atualmente, 57 Casas das Juventudes funcionam ativamente de forma presencial e virtual, sendo 35 com espaço físico e 22 virtuais.
Para acolher e efetivar os direitos humanos de adolescentes, jovens e adultos em situação de risco social e/ou pessoal e de rua, além de seus familiares, a SDSCJ atua com o programa Vida Nova. A execução das ações do programa acontecem no Centro da Juventude, no Recife, espaço no âmbito da proteção social especial que desenvolve atividades socioeducativas e socioassistenciais para 100 adolescentes e jovens encaminhados pelas redes socioassistencial e de garantia de direitos. O público, oriundo da comunidade de Santo Amaro e bairros adjacentes, têm entre 18 e 29 anos. A unidade também promove a inserção nas redes de ensino formal e de qualificação profissional, oferecendo diretamente oficinas profissionalizantes. Oferece ainda oficinas de cidadania, artes, cultura, esporte, percussão, inclusão digital, iniciação ao mundo produtivo, redução de danos aos agravos do uso abusivo de álcool e outras drogas. É um espaço de trabalho social com as famílias na busca pela reestruturação de laços e pela sociabilidade, além de um conjunto de cuidados e proteção social, no que se refere a saúde, alimentação, cidadania e garantia de direitos.
A Secretaria de Políticas de Prevenção à Violência e às Drogas (SPVD), desde sua criação em janeiro de 2019, promove as ações que aproximam políticas públicas às pessoas em situação de vulnerabilidade, em especial aos jovens, contribuindo para a redução dos índices de violência. Entre as ações em andamento se destacam o Universo Prioritário, trabalhando ações que facilitem o futuro dos jovens que fazem parte do universo prioritário, como egressos do sistema de medidas socioeducativas; adolescentes em progressão de medidas socioeducativas, reeducandos do sistema penitenciário em regime de progressão de pena, entre outros. Entre as ações destacam-se as parcerias para qualificação profissional desses jovens, como a do Instituto Reviravida, que vai inserir no mercado de trabalho jovens encaminhados pela secretaria, que estão em acompanhamento para minimizar a vulnerabilidade à violência e às drogas.
Já o Juventude Presente oferece Oficinas Socioculturais com o objetivo de abrir novas perspectivas para adolescentes e jovens, de 12 a 29 anos, de comunidades em situação de vulnerabilidade social, através do oferecimento de atividades com temas de interesse, aproximando jovens que têm a mesma identidade, estabelecendo novos vínculos, e com o oficineiro, escolhido dentro da própria comunidade, como figura que defende a Cultura da Paz, além de valorizar a comunidade, base para todas as oficinas.
As Oficinas acontecem em 44 territórios do Estado considerados prioritários para a instalação das políticas de prevenção à violência, voltada para os jovens. Todas as oficinas acontecem na própria comunidade, como forma de valorizar o território e desenvolver o protagonismo juvenil no local onde moram.
No primeiro ciclo do Programa Juventude Presente, de outubro de 2020 ao mês de agosto de 2021, foram oferecidas 474 oficinas para 9.119 jovens. O segundo ciclo começou em outubro de 2021 e ainda está em andamento, mas até dia 18 de julho, já são 474 oficinas oferecidas e 11.943 jovens inscritos. Até o fim desse ciclo, que deve se encerrar em outubro, os números de oficinas e jovens atendidos vão aumentar.
A Secretaria de Políticas de Prevenção também lançou, em fevereiro deste ano, o Edital de Seleção de Projetos de Prevenção Social à Violência para receber 62 projetos de prevenção à violência, voltados para os 62 territórios prioritários para a implementação das políticas de prevenção no Estado. Cada um dele deve fortalecer iniciativas da sociedade civil que auxiliem na mitigação de fatores de risco e fortaleçam fatores protetivos contra situações de crime e violência. Foram reservados R$ 6,2 milhões para este chamamento público e cada projeto pode receber até R$ 100 mil para a execução das atividades ao longo de 12 meses. As iniciativas foram selecionadas e a próxima etapa é a assinatura dos convênios.
Outro equipamento público de prevenção que atua de forma descentralizada, são os Núcleos de Prevenção Social. Destinados à implementação das políticas de enfrentamento à violência, servem como uma base para utilização da comunidade e onde podem ser encontrados serviços como a emissão de documentos, a mediação de conflitos, cursos para jovens e adultos e outros benefícios para a população. Uma equipe de articuladores de políticas públicas da secretaria está sempre orientando as pessoas no local.
Ouça a matéria da repórter Lara Sá, clicando no play acima.
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