Com futuro promissor, os dois setores precisam de condições para que possam caminhar entre a sustentabilidade e a lucratividade.
Foto: Reprodução/Solarprime
Em 12 anos, o Brasil saiu da 15ª para a 6ª posição como o maior gerador de energia eólica do mundo, como aponta o Ranking de Capacidade Total Instalada de Energia Eólica Onshore (em solo). Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), os números do setor crescem anualmente. São mais de mil parques eólicos espalhados por todo o país, gerando 31 GW de potência anualmente para 44,6 milhões de residências.
Por outro lado, os painéis fotovoltaicos, cada vez mais vistos nos telhados das casas e comércios, chamam a atenção pela possibilidade de produção e controle da própria eletricidade. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o setor de energia solar já é responsável por produzir 30 GW no Brasil, em mais de 15 milhões de casas.
Já é defendida a tese de que os setores eólico e solar estejam competindo por espaço, mas dada a necessidade mundial de superar as matrizes energéticas poluentes, não haveria mercado para ambos?
Matéria-prima em abundância
O Brasil é geograficamente beneficiado pela oferta de luz solar e vento. Por estar localizado próximo à Linha do Equador e da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), o país, em especial, a região Nordeste, dispõe da alta incidência de raios solares e da circulação dos ventos durante todo o ano. O que, de acordo com o doutor em Energética e professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Heitor Scalambrini, explica o crescimento, especialmente da fonte eólica, no território.
“Por exemplo, em 2007, a potência instalada era de 667 megawatts. No final de 2023, era de 30 mil megawatts. Portanto, esse crescimento extraordinário foi motivado por vários fatores, sendo a qualidade dos ventos disponíveis aqui no nosso país a principal delas. E lembrando que é aqui no nordeste que abriga mais de 85% de toda a potência eólica instalada no país”. (0’30)
Não à toa, estados como o Rio Grande do Norte e a Bahia se destacam pela alta produção no setor eólico, com mais de 7,5 GW gerados: verdadeiros parques eólicos em larga escala.
Como diferencial, o setor de energia solar tem na produção por conta própria o principal incentivo. Deyse Leal, Especialista da Neoenergia Pernambuco, conta que há uma série de pré-requisitos nos estados atendidos pela companhia para garantir a segurança após a contratação de uma empresa ou consultor, e submissão do projeto.
“A Neoenergia realizará uma análise técnica para avaliar o projeto e o local de instalação. Com base nessa avaliação, será emitido o orçamento de conexão. Caso aprovado, o cliente poderá dar início à instalação do sistema de geração de energia solar”, detalha.
Hoje, o modal solar ocupa o segundo lugar na matriz elétrica brasileira, sendo responsável por 14,8% de toda a geração de luz no país.
Investimentos
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é um dos principais financiadores dos dois setores. Em 2023, o Banco aprovou o empréstimo de R$ 3,5 bilhões em recursos para implantação de dois complexos eólicos e um solar no país, somando 1,5 GW em capacidade instalada.
Também com objetivo de impulsionar o desenvolvimento das energias renováveis, em 2023, o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) anunciou que mais de R$10 bilhões foram contratados para projetos focados em fontes limpas e sustentáveis, contemplando desde usinas de energia solar e eólica até pessoas físicas que pretendiam instalar placas solares em suas casas.
Membro da Academia Pernambucana de Ciências, e presidente do Centro de Tecnologia do Nordeste (Cetene), Giovanna Machado acredita que, em se tratando de energias renováveis, há espaço para todas.
“Elas devem se somar. Eu não vejo que cada uma tem que buscar o seu mercado individualmente, e existe mercado para todas, porque há muita tecnologia ainda a ser melhorada nesse sentido. A gente vê um aumento da parte de célula solar e eólicas, que estão tomando um espaço bem importante nesse sentido”, afirma.
Meio Ambiente
O Brasil ocupa uma posição de destaque quando o assunto é energia limpa e renovável: cerca de 50% da matriz energética e 88% da matriz elétrica atendem a esses requisitos. Na COP 28, o país impulsionou o compromisso com a transição energética nas negociações climáticas, firmando um acordo com as demais nações para triplicar a capacidade de energias renováveis e dobrar a eficiência energética mundial até 2030.
Na relação com o meio ambiente, no entanto, a produção de energia solar leva vantagem em relação ao modelo atual de instalação das usinas eólicas. Ainda que não haja emissão de gases poluentes e geração de resíduos, os aerogeradores produzem um impacto sonoro considerável, além da capacidade de alteração dos habitats e dos movimentos migratórios de aves.
Já as células fotovoltaicas, de vida útil prolongada, são de fácil instalação e manutenção. Mas ainda que os valores necessários para investir nesse setor venham diminuindo, eles ainda são altos para muitas famílias. O professor Heitor Scalambrini aponta que, para ambas as matrizes, uma saída viável, do ponto de vista ambiental e econômico, seria a descentralização da produção.
“A geração elétrica a partir do sol e vento e a partir de pequenas unidades descentralizadas, distribuídas, minimiza os impactos e é esse modo de produção de energia elétrica que deve ser priorizado. Para que os requisitos socioambientais sejam atendidos sem o desrespeito pela vida das pessoas que vivem e tiram seu sustento de onde vivem, e cultivam suas tradições, os grandes complexos eólicos e solares são insustentáveis. E, no fim das contas, trazem mais desvantagens do que vantagens”, acredita.
Com futuro promissor, os dois setores precisam de condições para que possam caminhar entre a sustentabilidade e a lucratividade. Nesse contexto, o poder público tem papel essencial na garantia de uma competição justa pelo mercado, permitindo que cada setor tenha seu espaço e consiga atuar pensando e investindo no bem-estar das pessoas, do planeta, e da economia.
Com sonorização de Lucas Barbosa, produção de Lucas Arruda e edição final de Daniele Monteiro, reportagem, Maria Luna
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