Do diagnóstico do câncer ao voluntariado: conheça a história de Elisabete
Iniciativa, alegria e entusiasmo definem a trajetória da paciente, que superou os desafios da doença e hoje ajuda outras mulheres
Foto: Antonio Diniz
Especial Outubro Rosa - Por Antonio Diniz
A vida é repleta de transformações. Muitas vezes, o caminho pelo qual ela está seguindo e seus respectivos mistérios não são facilmente compreensíveis aos indivíduos. No entanto, se torna perceptível a partir do momento que o ciclo se completa e os aprendizados começam a ser entendidos. A história de Elisabete Bezerra é a prova viva disso. Ela passou por um câncer de mama para se encontrar no lugar onde se sente realizada: ajudando outras pacientes, dando apoio e dedicando o seu tempo ao voluntariado.
Elisabete tinha 53 anos quando, em 2006, foi diagnosticada com um câncer de mama. A descoberta aconteceu por meio de exames anuais preventivos que, a princípio, apresentaram apenas um nódulo benigno, sem a necessidade de procedimento cirúrgico, mas ela quis investigar profundamente para ter a certeza de que as medidas tomadas seriam as adequadas. Por isso, ela continuou investigando o nódulo benigno e resolveu buscar o tratamento correto no Hospital do Câncer de Pernambuco, já que as propagandas de televisão da época já alertavam às mulheres sobre a necessidade do diagnóstico precoce. “Quando eu cheguei no Hospital, o médico disse ‘você veio fazer o que aqui se os seus exames estão normais?”, afirma Elisabete.
Em outubro do mesmo ano, a paciente refez uma bateria de exames, envolvendo desde os procedimentos de toque até cirurgia para biópsia. Os resultados sairiam em dezembro, na semana de ano novo, mas ela resolveu aguardar a virada de ano para encarar a notícia positiva ou negativa. O dia 3 de janeiro foi definitivo. Quando ela foi atendida, o médico deu a notícia, indicando que os exames não não foram bons e que seriam necessários exames pré-operatórios para que a cirurgia fosse realizada e deixou claro que haveria a possibilidade de retirada total da mama. O momento para Elisabete foi de desespero. “ Foi muito difícil para mim. Na hora, me desesperei, chorei, me acabei, me esperneei, só não fiz escândalo, mas chorei muito, muito, muito mesmo. Não é fácil descobrir que você está com câncer, mesmo que hoje em dia, a gente descobrindo cedo, tenha cura”, define a paciente sobre o que sentiu no momento do diagnóstico.
15 dias depois, no dia 18 de janeiro, a cirurgia para retirada do tumor foi realizada. Como o diagnóstico foi realizado cedo, houve apenas a necessidade da retirada da parte comprometida e não total da mama. Após o procedimento cirúrgico, Elisabete precisou passar por 6 sessões de quimioterapia. De acordo com a paciente, esse foi o momento mais delicado do tratamento. Ela afirma que fato de ter encarado as sessões como uma contagem regressiva facilitou a passagem do tempo, e atribui a força que teve para passar pelo momento mais difícil do processo, aos filhos. “Eu fiquei contando: ‘tomei uma, faltam cinco; tomei outra, faltam quatro’. Fiquei nessa conta e passou tão rápido que eu nem percebi. Mas, foram os filhos, os netos e a vontade de ver meus netos crescerem, que acho que as coisas mais importantes da minha vida. O pessoal às vezes bota marido em primeiro lugar, eu não. Coloco meus filhos e meus netos em primeiro lugar. O apoio familiar foi muito fundamental, fui cercada de carinho tanto familiar, como de amigos”, destaca.
As sessões de quimioterapia eram feitas de 20 em 20 dias. Elisabete esclarece que ficava mal nos primeiros três dias após o procedimento, mas que depois disso, não ficava debilitada. “Tu pensa que eu ficava de cama? Ficava de cama não, de jeito nenhum. Eu vejo gente que toma quimioterapia e não sai da cama, mas eu? Oxe, se me chamasse pra ir pro pagode, eu tava indo, porque eu adoro dançar, brincar e me divertir”, afirma com entusiasmo.
Durante o percurso, Elisabete conheceu um grupo que, desde o primeiro contato, foi capaz de mudar o destino da sua história: espaço renascer, coletivo de apoio a mulheres mastectomizadas. Ela começou a fazer parte do grupo despretensiosamente e espontaneamente. “Eu sou muito curiosa, aí chegava na fisioterapia, tinha aquele bando de mulher sentada. Eu ficava ‘meu Deus, o que é isso aí?’. Aí, num dia mandaram eu entrar, eu entrei, me sentei toda desconfiada no cantinho e faço parte até hoje desse grupo”, explica como conheceu. De acordo com ela, o espaço renascer foi o que levantou seu astral no período da doença e, hoje, é visível na expressão da paciente o quanto ela é grata por desenvolver o papel de voluntária.
Quando criança, ao entrar no HCP, ela ficou assustada e afirmou que nunca mais queria entrar naquele ambiente, mas destaca que a vida é uma caixa de surpresas. “Aí o que foi que Deus fez? Permitiu eu ter um câncer pra hoje estar aqui dentro, eu amo o que eu faço. Se eu pudesse, eu vinha todo dia. Se eu não tivesse marido, eu vinha todo dia, porque meu marido já mandou até eu escolher cama aqui”, diz.
Hoje, além do espaço renascer, ela também se dedica a Rede Feminina de Combate ao Câncer. Como lição de toda trajetória, que envolveu cirurgia, quimioterapia e radioterapia, Elisabete ressalta o poder da melhora. “A cura, né? Estar curada há 12 anos, com vigor que eu tenho, apesar que a pessoa com 64 anos, tem uma dorzinha aqui, uma dorzinha ali, mas não tem dor certa comigo não, toco um pagode aí que eu danço”, finaliza Elisabete com toda sua alegria e entusiasmo.
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