Cinema São Luiz: Em 71 anos de trajetória saiba quais os desafios do espaço para seguir em funcionamento
Neste mês, o São Luiz completou 71 anos de existência, mas, não há muitos motivos para celebrar a data
Foto: Israel Teixeira
O CINEMA
Símbolo da cultura pernambucana, palco de diversos filmes e inúmeros festivais, o Cinema São Luiz, localizado na Rua da Aurora, no Centro do Recife, é, ainda, um lugar de resistência.
Administrado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e tombado em 2008, como monumento histórico pelo Governo do Estado, o espaço foi inaugurado em 6 setembro de 1952.
Felipe Sousa, conhecido popularmente como Pelos olhos de Felipe, é um criador de conteúdo que mora no Recife há 8 anos. Por meio de suas fotografias, ele registra a cidade como um espaço de construção de memórias afetivas e o Cinema São Luiz faz parte da vida de Felipe como um lugar de boas lembranças.
“Foi aqui em Recife que eu pude aprender, que eu pude conhecer outras formas de cinema, outros tipos de filmes, foi aqui que eu pude criar um interesse maior e criar uma relação de amor mesmo com o cinema, e o São Luiz tem um papel fundamental nesse meu processo”, afirma Felipe.
71 ANOS | DESPEDIDA DE GERALDO PINHO | PANDEMIA DA COVID-19
Neste mês, o São Luiz completou 71 anos de existência, mas, não há muitos motivos para celebrar a data. Ao longo dos últimos anos, um dos principais espaços da cultura local enfrentou e ainda enfrenta perdas e desafios para seguir funcionando. Um dos maiores deles, foi a despedida do programador Geraldo Pinho, que faleceu em 9 de novembro de 2021. Sem falar da pandemia da Covid-19, que teve seu primeiro caso confirmado no Estado em 2020, provocando o fechamento do cine São Luiz por dois anos.
Com a flexibilização do isolamento social, em 2022, o local reabriu em 24 de fevereiro do ano passado, dando largada a uma programação de abertura prestando uma homenagem a Geraldo Pinho, que esteve à frente da sétima arte durante longos anos de sua vida como cineasta e fotógrafo pernambucano.
REQUALIFICAÇÃO E OBRA PARADA
Após a reabertura em razão do fechamento devido a pandemia da Covid-19, a retomada do Cinema São Luiz, não durou muito tempo. Depois de três meses reaberto, o local fechou as portas para reforma, em maio do ano passado, ainda na gestão Paulo Câmara (PSB) e segue, atualmente, sem previsão de reabertura nesses nove meses de gestão Raquel Lyra (PSDB).
A presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Renata Borba, detalha o andamento das obras realizadas no equipamento e as causas da não reabertura do espaço. “No início da atual gestão, ainda em janeiro deste ano, a equipe técnica da Fundarpe que, hoje conta com especialistas na área de patrimônio histórico se deparou com uma obra de modernização do sistema de climatização e adequação das instalações elétricas do Cinema São Luiz, que já estava em fase de conclusão, mas estava paralisada desde outubro do ano passado”, disse Renata Borba.
A requalificação do espaço fazia parte de um plano, que destinou cerca de R$ 16,6 milhões para 10 equipamentos culturais no Estado. A sala recebeu obras estruturais estimadas em R$ 1,3 milhão, com enfoque na modernização do sistema de climatização e na instalação elétrica.
Inicialmente, a previsão de reabertura seria para o final do ano passado, o que não ocorreu. Como justifica, ainda, a presidente da Fundarpe. “Para a reabertura do São Luiz ainda é necessário executar esse serviço de consolidação e sustentação do forro decorado do cinema, mas já fizemos o projeto básico com o orçamento, o termo de referência e já encaminhamos todo o processo para a central de licitação do Governo do Estado e esse serviço tem um prazo de 6 meses para ser executado”, complementa.
Além do cinema, o prédio onde o São Luiz está, localizado no cruzamento da Rua da Aurora com a Avenida Conde da Boa Vista, também abriga endereços comerciais e residenciais. Com capacidade para 992 pessoas, o Cinema São Luiz é uma das poucas salas de cinema de rua do Brasil, localizado às margens do Rio Capibaribe, o local segue como um patrimônio histórico de resistência da cultura pernambucana.
NOVA GESTÃO E EXONERAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS
Com a transição de governo e com Raquel Lyra (PSDB) assumindo a gestão estadual, muitos funcionários foram demitidos da equipe de colaboradores do Cinema São Luiz, entre eles, o antigo programador que substituiu Geraldo Pinho e atual coordenador do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), Luiz Joaquim, que fala sobre a importância do cinema de rua para a cultura de Pernambuco e como ele reflete na memória dos recifenses.
“Não há medida, não há tamanho, não há como mensurar a importância do Cinema São Luiz em termos de benefício, em termos de educação, em termos de formação, para a cultura pernambucana, para a cultura brasileira de um modo geral, mas em particular para a cultura recifense, que é o local onde o São Luiz existe. Estamos falando de um equipamento cultural de 71 anos, que é uma peça arquitetônica única em todo o mundo. O São Luiz deslumbrou milhões de pessoas ao longo desses 71 anos”. afirmou o coordenador do cine da Fundação.
Luiz Joaquim também detalha os diversos problemas que o equipamento tem enfrentado por estar fechado por 16 meses. “Estamos falando de uma sala de cinema que trabalha com equipamento de tecnologia de projeção sofisticada e precisa de uma dinâmica de operacionalização contínua, caso contrário isso pode comprometer o equipamento”. complementou Luiz Joaquim.
O Cinema São Luiz é mais do que um simples cinema de rua, ele é uma forte representação da identidade cultural do Estado de Pernambuco. No espaço, foram construídas lembranças e histórias de toda população recifense, onde ele foi palco de risos e lágrimas compartilhadas em tela, onde a magia do cinema reflete e segue refletida em vários olhares e corações pernambucanos.
Ouça a matéria especial do repórter Israel Teixeira, clicando no ‘play’ acima
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