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O JACU e EU


Por: REDAÇÃO Portal

11/09/2023
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            Eduardo Romero Marques de Carvalho – advogado

         Ponham uma coisa em suas mentes: Que, a Vida é uma graça da Morte e por isso a verdade é que jamais estivemos e nem estaremos plenamente vivos. Cada um de nós é a mais completa e concreta tradução da Morte Ambulante, em Pessoa, caminhando, por Aí. Vivemos guiados por Ela, em nome Dela, tangidos por Sua ausência, quando, durante e por conta da Sua ocupação com os Outros, ou de um Seu momentâneo descaso. A Vida só tem algum valor porque a presença da Morte é a ameaça da instantânea e definitiva infinitude do Nada, Quê nos impõe o cotidiano caminhar pelas bordas do centro de um Tudo in-Finito. E, portanto, trata-se de pura cretinice, no além da profunda estupidez, com pitadas de um egoísmo docemente cabotino, se pretender à eternidade.

        Estamos Aqui, rotativos e translativos, soltos, desgarrados, despregados, desamparados, perdidos, perplexos, n’alguma esquina, estacionados, n’algum beco, paralisados, diante da encruzilhada, claudicando, no meio da rua, tropeçando, pelas calçadas, equilibrando-nos, dependurados, nas balaustradas d’alguma ponte. Seguimos, Alienistas, tentando recriar os nossos mundos nos buchos de outros mundos, de realidades já reconstruídas. Num rejuntamento de fotografias, o reencontro de peças perdidas, debaixo de naturezas mortas. Dia após dia, neste exercício involuntário de viver revivendo, durante este trajeto sem roteiro, este cortejo sem rumo, nesta procissão, por entre lascas do Inferno. Buscamos na incerteza a certeza de um Destino Alienígena, cinicamente cientes da sua jazida pre-me-di-ta-ção.

        Eis a síntese de todas as nossas vidas: “Caminhemos, talvez nos vejamos, depois” - in, Herivelto Martins. E, o Que nos mata é a falsidade contida neste “talvez”. Sim. É Isto. A falsidade que alimenta de falsidades a falsa esperança, porque já se sabe absolutamente vazia de Ser. Então, sejamos sinceros, pois não tememos a Morte. O Horror não está na Morte em Si. O Medo nasce do não se rever, da expectativa da chegada do Eterno Esquecimento, mútuo. Pois, esqueceremos, sim. E seremos esquecidos, for-ever. É D’Onde vêm os “Por Que” e “Para Que”.

        Mas é preciso morrer vivendo. Livremo-nos do Mal, que, insistentemente, nos persegue, nos cerca, manda recados, e agora, nos envia zaps. O Mal não tem remorsos porque, nascido mau, não tem memória do Bem. Já Eu, lembro das suas faces, dos seus sorrisos e dos seus risos, dos seus esgares, dos seus batons e do seu pó de arroz, do seu rosto limpo, às vezes lívido, ressuscitado, e das suas mãos espalmadas, outrora garras, n’outra hora, punhos, dos seus seios, das suas ancas, coxas, entre coxas, e dos seus olhares falsamente e-ternos, dos seus cantos, um dia encantos que embalaram meus sonhos, adocicaram meus lábios, me trouxeram calor, umedecendo os nossos desejos.

        De outra banda...Cresci ouvindo se dizer, todas as vezes em que alguém cometia um erro extenso, sempre que o seu agir produzia longos e prolongados efeitos danosos e colaterais: “Fulano fez uma ca-ga-da de jacu”. Para os que o desconhecem, informo: Jacu é uma ave que defeeeeeeca caminhaaaaaando. E, assim como são os jacus, também o são algumas mulheres e a maioria dos homens.

        Qual de nós jamais se comportou, ao menos uma vez, que nem um grande jacu? Acordou, despretensiosamente, e saiu para o mundo, como quem nada quer, foi para escola, para o trabalho, para a praia, piscina...sem se dar o devido valor, ignorando o tamanho da merda capaz de produzir. Sim. Porque o nosso mundo é resultado de muuuuita bosta, e, diria mesmo, ser o acúmulo e sobreposições de camadas e mais camadas de merdas, uma profunda mistura de todas elas. São poucos os que já fizeram esta descoberta intestina. Quando forem muitos, a humanidade terá dado um passo definitivo e decisivo no sentido da sua redenção, e viverá melhor, sob o seguinte axioma: O mundo é uma bosta; nós produzimos a bosta; logo...somos a Bosta!

        E antes que algum Pellegrino (sic) venha indagar o que é que a história do jacu tem de afinidade com todos os Outros parágrafos deste texto, respondo que não sei, e que nenhuma, talvez. Mas sei Que a Vida é assim.

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