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Eduardo Carvalho: O nome dela é Gal


Por: REDAÇÃO Portal

15/11/2022
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Foto: Cortesia/Whatsapp

Era a década de 70 do século passado, quando eu e os meus 15 anos de convicção na imortalidade saltávamos dos pontilhões para o meio das ondas, andávamos por ai, experimentando e descobrindo coisas. Partíamos da Beira Mar, 153, muros e paredes brancos, janelas, portas e portões em azul-marinho, próxima ao antigo circular do bonde, Bairro Novo, da Olinda que não desejo esquecer., jamais. Bença, Tonha! 

            De saída para o Colégio de São Bento, avisto um long play deixado no sofá da sala de star, na capa a fotografia nas cores de uma mulher nua, de juba negra em forma de auréola de fios encaracolados. Sorria seus lábios carnudos para mim. Seus olhos de malícias profundas e inauditas olhavam somente para dentro dos meus. Seu colo moreno, desnudo, as suas pernas morenas, abertas, a permissão e o convite à redescoberta animista da origem de um mundo cuja existência só se justifica na bela e singela síntese do se-dar e se-receber, livremente. 
 
            Guardei aquela foto. Então surgiram novos desejos e diferentes Quereres traduzidos noutros jeitos e formas estranhas de agir e de sonhar, tudo agora perfumado por cheiros desconhecidos que traziam o pressentir da aproximação do corpo, vindo aos poucos, materializando-se, palmo a palmo, sendo moldado, para em fim permitir o fingimento do ser-apalpado e do ser-descoberto na paralisia do instante em que o Tempo nos entrega à sorte da “pequena morte” querida, tácita e mutuamente consentida, porque protegida das abruptas despedidas mesquinhas, pusilânimes, sem razão. E porque Dela ressuscitarmos sem preces, falsas promessas e sem pedir perdão. 

            Foi, sim, Você, o meu primeiro amor silencioso e escondido. A primeira das mulheres invisíveis a se deitar comigo em noites de medo do abandono e da solidão. Eram tuas aquelas mãos que me acolhiam na curva das madrugadas de calor intenso e dos pesadelos sem fim, até meu desespero passar, ou o sol começar a raiar. 

            A Morte é que é a verdadeira Revelação da vida, exatamente por ser a sua absoluta negação, ao reduzir Tudo a Nada, deixando-nos ser-ausências, ser-lembranças, ser-recordações. A Morte, essa “elegante ameaça”, denuncia a vida por ser o acúmulo dos desperdícios do existir, se negamos o único motivo do Ser.

            A morte de Gal arranca de mim a sua presença para, em permuta, instalar a Saudade. Mas, mais do Quê isso. A perda da sua presença, levando consigo a última das esperanças, me ré-lembra o quão covarde fui e ainda sou.

Eduardo Romero Marques de Carvalho – advogado

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