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Eduardo Carvalho: Eu


Por: REDAÇÃO Portal

29/12/2022
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Foto: Cortesia/Whatsapp

Muito chata pra cacete essa mania de escrever Sobre-Si, e na primeira pessoa do singular, então... misericórdia! “Porque Eu...”, “Então, Eu...”, “Lá fui Eu…”, “Eu Senti…”, “Eu pensei...”, “Eu acho…” e Q Tais. Soa e é cabotino. Mesmo que, vez por outra, docemente cabotino, que nem essas autofotos cretinas, divulgadas pelo autofotógrafo cretino, cretinamente autointituladas: “Sozinho...”, “Jantando...”, “Lendo...”, “Pensando…”, “Ainda no escritório…”, “Embarcando…” - dentro de um finger, “Como é linda, Paris” – a Eiffel, por detrás, “Ave, César!” – ao lado, o Coliseu, “I love, Salvador” – de costas para o Farol da Barra. É preciso ter pudor e humildade para Se-escrever sobre Si-Mesmo, reparando-Se e reconhecendo-Se que, de tudo há-kilos que Se-desejaria falar, Se-dizer, Se-expressar, Se-dividir, Se-compartilhar, é bem provável e bastante provável, que nada e muito além do Nada há de interessar ou ter a menor e qualquer importância para Você e, menos ainda, para o Outro.

            De fato, que me interessa saber De-Você tomando banho de sol, de mar, piscina, de lama, de luar; Se-Está montando a cavalo, pedalando, fazendo ioga, aeróbica, fitinesse, passeando com o cachorro, na praça de Casa Forte, em frente ao Forte de Pau Amarelo? Que rota do Universo será alterada, onde irão bater os anéis de Saturno, Urano e Netuno, quais mudanças acontecerão no destino da humanidade, ao Se-Saber notícias De-Você: onde está, fazendo o que, indo para onde, pensando no Quê; Se-Você provou da massa feita por…, Se-Você gostou do novo filme do..., Se-Você apreciou o vinho da marca “Tal”, servido pelo Casal de Amigos(as) ... “há muito, não nos víamos”. O Quê-e-Quem lhe faz pensar que Eu tenho curiosidade De-Você?
 
            Por exemplo, cito...Vinha Eu-Sozinho, quando um amigo me parou frente, pôs suas mãos em meus ombros... “E, ai?”, “Vai pra onde?”, “Como vão as coisas?”, “Advogando?”, “Ainda casado?”,  “Com a mesma mulher?!”. Algumas respostas foram dadas, outras... omiti, ele avança: “Andei lendo umas coisas que você andou escrevendo (sic), Sicrano que me mandou, desde quando tu escreve?! De onde é que você tira, de onde vem sua ins-piração?”. Fiquei atordoado com as questões im-postas de maneira sequenciada, e com receio da reação do Fulano, após escutar as res-postas.

            “Rapaz...essa...coisa de es-cre-ver... é algo que, sinceramente, não sei de onde me-vem, como-me-chega; surge assim... dentro mim, uma força, uma energia, é um Ser que se agita, grita, toma conta de... mim; acordo, é madrugada, andando até o meu gabinete, as palavras simplesmente brotam, me-surgem imagens, me-chegam as frases, e elas saem vomitadas de...mim; eu-suo, me-emociono, eu-caio na gargalhada, eu-choro. Eu-choro-muito. Sempre que termino uma...obra me-sinto...exausto, liquidado, física e psicologicamente. É uma experiência que...verdadeiramente, me consome e, sei lá… me ‘faz pensar, que existe uma força maior que Me-guia’. Não sei se você é capaz de me entender”, e era esta a resposta pronta, dentro da boca, pendura na ponta da língua, que eu tinha para dar. Acontece que bateu medo. Foi medo, mesmo. Tive medo de que, por qualquer obra do Destino, do Acaso, do Diabo, Fulano descobrisse a Verdade. Decidi confessar.

            Até já disse isso. Que, um dia descobri me faltar coragem para embarcar e viajar de avião, passavam-se 04 anos. Aconselharam-me procurar o Dr. Wilson de Oliveira Jr.  O Dr. Wilson perguntou como Eu ia, da minha vida, se Eu bebia, fumava, e se dormia, ouviu meu coração, escutou Minh’Alma. Perguntou se Eu entrava em elevadores, disse a ele que sim. Disse que em breve Eu voltaria a voar, mas sugeriu que  Eu procurasse a Dra. Rosana, Que perguntou do que Eu tinha medo. Respondi que Eu não tinha medo de coisa alguma e ela esbouçou um olhar que traduzi assim: “Coitado”. Algumas consultas depois, Dra. Rosana perguntou se Eu gostaria de tentar a pintura, quem sabe cerâmica, bordado, crochê, cozinhar... Eu disse à Dra. Rosana, que Deus não havia me brindado com qualquer desses dons, nem com outras habilidades quaisquer: “Tanto assim, que fiz Direito”. Bom. Você sabe, remédio tá caro, Fulano. Então, na verdade, Eu escrevo por ordem e sob prescrição, médicas.

            Ele olhou bem no fundo dos meus olhos, deu-me as costas, foi embora.

            É chato, ou não né?

 Eduardo Romero Marques de Carvalho – advogado
 

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